sábado, 31 de julho de 2010

Oposição

Espera-me a estrada vazia
Desprovida de paisagem
Espera-me a avenida fria
Onde a cultura não passa de miragem

Onde foram parar os poetas?
Que é feito dos artistas?
Porque embarcou a arte em dietas?
Para quê a humilhação nas revistas?
Parem!

Valorizem faculdades poéticas
Não deixem morrer as belas-artes
Amparem-se nas velhas éticas
Não matem a cultura de enfartes!

A poesia do rouxinol
A harmonia do som do mar
A leveza de um caracol
Versos apaixonados ao luar
O amparo de um farol
As asas que impulsionam a voar
O brilho ofuscante do sol
A vivacidade do verbo amar
Agarrem-nos e continuem a sonhar!

Ninguém precisa da guerra
Nem da exterminação de raças
Todos precisamos do planeta Terra
Livre e solto de ameaças!

Chega de aquecimento global
De poluição e armas destrutivas
Chega de consentimento geral
De ordens trazidas por missivas!

Vamos forçar a instrução
Ensinar o povo inculto
Palavrear a nossa frustração
Dar azo a um novo tumulto
Vamos?
Vamos!
Vamos actuar em repugnância
Lutar formando uma aliança
Unirmo-nos acabando com a ganância
Ver o mundo pelos olhos de uma criança
Vamos viver recorrendo à inocência da nossa infância!
Vamos?
Vamos
Porque, para já, ainda há esperança!

Palavras

Palavras...
Desencontradas
Trauteadas
Plagiadas
Desesperadas!

Palavras...
Magoadas
Fingidas
Equivocadas
Escondidas
Maltratadas!

Palavras...
Deitadas ao vento
Apaixonadas
Sem alento
Intoxicadas
De descaramento!

Palavras
Incompreendidas
Ignorantes
Vociferantes
Desgastantes
Terminantes!

Palavras
Meras palavras
Escravas
De uma humanidade
Que lhes põe um fim
Palavras
Meras palavras
Escravas
De um coração
Que lhes confere um chinfrim
De lágrimas, de gritos, de suspiros, de preces
Palavras
Meras palavras
Que consumes, que partilhas e às quais te enalteces

Palavras
Meras e suplicantes palavras...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Reagente Limitante

Limites!
Imponho limites
Saiam do meu espaço
Deixem de soltar palpites
Que provocam o meu embaraço!

Quero acolher a paisagem hiemal
Sem horários nem restrições
Quero correr daqui e ser magistral
Dar azo a solenes criações

Imploro por paz interior em novos caminhos
Pela neblina escasseante de perjúrios
Pela árvore ornamentada de espinhos
Negro sepulcro de celestiais murmúrios

Este arrepio que me gela a face
Este zumbido que me arrelia
Criam um pequeno desenlace
Duma rota doutro mundo... Agonia!
Tragam-me morfina!
Entreguem-se em submissão
Repelentes da minha sina
Voarão de mão em mão
E tudo depende desta largada jovial
Começa agora a minha extensão
A pressuposta doutrina imparcial
Agarrem na cocaína, induzam esta geração!

E lá vai o mundo!
Tudo gira sem parar, basta a fricção e o tumulto
Tudo gira sem rodar, gasta está a vocação e o atributo
Tudo gira sem rodopiar, entusiasta mortal e do oculto
Tudo morre sem notar, caindo por terra o último vulto!
E eu aqui sem respirar...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Perfume

Brisa leve e percorrente
Carregada de aromas pesados
Esta fragrância permanente
Traz recordações de tempos mal passados
Já lá vão...
Mas a brisa continua a soprar
Eu dou-te com resistência mais um não
E pareces não querer acreditar
Foges de mim quando começo a negar
Enfrenta-me! Eu esqueci-te!
É esta a verdade que tens de encarar
Pára de chamar a minha atenção
Em nada te adianta fazeres-te notar
Contigo? Nunca! Mais utopia não!
Eras alexina a circular no meu plasma
Agora és timina e adenina que se descruzam
És carbono que acelera a minha asma
Inóspitos microrganismos que me usam
Não!
Não vou deixar que infectes novamente!
Quero ficar sã e tu não passas duma droga
Desaparece, de uma vez, eternamente
Porque és viciante água que me afoga
Agora que te vejo com a razão, soas-me a ridículo
Dá-me vontade de correr para longe de ti
Esconder-me no mais pequeno cubículo
E orgulhar-me porque te perdi
Obrigada!
E agora leva esse perfume perserverante
Abafa-o com as palavras que me disseste
Livra-te desse feitiozinho arrogante
Não voltes cá porque para mim... Morreste!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Joana Margarida

Chegamos ao mundo
Inocentes e de total dependência
Crescemos e a cada segundo
Adquirimos mais experiência
Os dias passam, ligeiros
Os anos voam de ti
Somos meros passageiros
Vagueando daqui para ali
A vida continua sem nunca parar
Ensinando-te as mais variadas lições
Dá-te pessoas em quem te podes sustentar
Um variado leque de emocionantes opções
Cabe-te a ti escolher o caminho
Tens-me sempre aqui para te apoiar
Terei sempre um conselho, um miminho
Quando tudo se parecer desmoronar
Sei que sonhas e combates todos os dias
Tiveste dias para sofrer e outros para amar
Tiveste promessas, desgostos e alegrias
Pessoas que sempre lá estiveram e em quem podes confiar
Tens-me aqui para desabafos e partilhas
Para brincadeiras e vídeos engraçados
Tens-me aqui para te alertar de armadilhas
Que surgirão nestes destinos pré-traçados
Porque já lá vão 18 anos!
E que venham muitos mais pela frente
Desejo-te a maior felicidade do mundo
E quero ver-te sempre contente!
Obrigada por fazeres parte da minha vida,
Pela tua personalidade alegre e fascinante
Por estares sempre presente e seres tão querida
Pelos quase 18 anos de partilha constante
Gosto imenso de ti porque cresci contigo, minha Joana
Tens tudo o que se espera de um amigo
Orgulho-me de teres sido a primeira a chamar-me Niana
E levo-te sempre no coração comigo!

Parabéns minha Janinha (:

sábado, 24 de julho de 2010

Retrato

Aguardava-me a tela vazia 
O pincel ansioso, a palete cheia de cor
Segurei a minha última energia
E dei asas à criação do amor

Principiei com traçado ameno
E em tons de pastel
Imortalizei o ar sereno
Dos teus olhos cor de mel

Concentrei-me no teu nariz
Foquei o seu arzinho arrebitado
Ecmnésias do quanto era feliz
Estando sempre do teu lado

Carregada e com vigor
Expressando toda a minha ternura
Dei forma a um símbolo de amor
Teus lábios de grossa espessura

Tracejei de forma inconstante
Linhas tortas, desencontradas
Tentei perpetuar o brilhante
Das tuas madeixas encaracoladas

De forma suave e subtil
Sobrancelhas e pestanas figuravam
Com risquinhos de cuidados mil
Que meus dedos retratavam

Olhei pela janela
Nossos olhos se encontraram
Escondi a minha aguarela
E os pincéis que te pintaram
Veloz, tapei a tela resplandecente
Arrumei toda aquela confusão
Tintas, fotografias, caneta permanente
Esconderam-se em união
Fui em teu encontro e docemente
Entreguei-te o coração!

Inconsciente, ouvi barulho e acordei
Tudo não passara de um sonho, mera ilusão
Pesadamente me levantei
E eis que caí em admiração:
Num canto estava o teu retrato e as tintas pelo chão...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Decadência

Colossal fagocitose de intenções
Regozijo ténue e pavoneante
Um mar inundado de lamentações
Um dia-a-dia sectante
É frustrante!

Tendências esteganográficas
Despertas por mentes brilhantes
Trazem coordenadas geográficas
Que nos guiam para realidades suplicantes
Milhares de vidas terminantes!

Resquícios de força, necrose
Circulação de massas folgadamente impedida
Vómito de sangue,  endocitose
De verbos e versículos sem medida
Já não há vida!

Suor ressequido
Num corpo que tresanda a morte
Patusqueiro e ressabido
Porém mal amado pela sorte
Perdeu-se o norte!

Mais um dia, mais um escândalo de estado
Mais uma bomba, mais um atentado
Que fazem capa da edição de um jornal
Mais um tiro, mais um familiar frustrado
Árduas lágrimas perante tanto mal
Quero a diferença em vez do sinal de igual!

Omissão! Omissão!
Fogem de nós com a verdade na mão
Ressuscitam as garras retumbantes de um caixão
Que aguarda pelo nosso dia não!
E eu sento-me no chão...

Observo e sofro a dor balanceante
Ouço gritos atemorizantes e sedentos
Vejo festejos de gente arrogante
Que viu a morte nascer dos seus rebentos
Nada lhes diz tal facto!
Ecfonemas irritam o seu subconsciente
Mas no momento exacto
Irão sentir seu coração dormente
E aí... ai como ficarei contente!

Partiremos para o desempate
Poderosos fugirão a sete pés
E eu reboliçarei, nem que me mate
Para remar noutras marés!
Mas sozinha nada consigo
Unam-se, juntem-se a mim
Lutem pela justiça comigo
Façamos um notável motim!
Mas (...)
Mas que loucura de mundo!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Fragmentos

Coração sobredotado e musical
Pautado em escritos cheios de pureza
Retratos de um amor puro e angelical
Capaz de conquistar a mais extravagante proeza

Ela vibra e alegra-se com o primeiro amor
Que transforma em cor a sua imaginação
É um misto de sentimentos em fervor
Nervos à flôr da pele e atrapalhação
Mas está feliz até mais não!

O meio extrínseco ganha novos contornos
Cada vez que cruzam seus olhos faiscantes
Voam para longe todos os transtornos
Borboletas no estômago surgem, delirantes

Pequenos adolescentes de mão dada
Saboreando conjugações do verbo amar
Ambíguos vínculos que surgem de rajada
Um gradual desejo de se aproximar

Então passam meses e anos
Continuam juntos, resolvem avançar
Caiem num dos prazeres humanos
A velha arte de procriar
Os laços são inquebráveis
Vivem numa história de encantar
Nas suas vidas inimagináveis
Não esperam o que o destino lhes irá traçar
A vida vai mudar...
Ela vai embora contrariada
E tudo o vento levou...
Parte-me o coração vê-lo aguentar esta angústia desgraçada
Sua amada partiu, pelo céu o trocou
E tudo à volta de si é mero nada...
Tudo, excepto o
"Coração sobredotado e musical
Pautado em escritos cheios de pureza
Retratos de um amor puro e angelical
Capaz de conquistar a mais extravagante proeza" (...)

domingo, 18 de julho de 2010

Vulto

Desgraça ambulante
Por onde vais?
Rotineiro ser pensante
Esquecido pelos demais

Estás extasiado
Esperas e cruzas os braços
Sentes-te mal amado
Repleto de embaraços
O que vês magoa-te a vista
Mas dás uma larga gargalhada
Pequeno terrorista
Embarcaste numa maléfica jornada

Duma fenda na janela
Observo-te a caminhar
Tens uma face dura e bela
Que me incentiva a te procurar
Mas nossos mundos antónimos
Impedem-nos de nos aproximar
Antagonicamente nossos desejos sinónimos
Transformam em chamas cada olhar

Tu sabes quem eu sou
Observas-me à distância
Sabes que tudo criteriosamente mudou
Desde a nossa cônjugue infância
Sei que vivias para me ver
De olhos luzentes pela fenda
Sei que me tentas esquecer
Sei que não terás emenda
Sei que te faço sofrer...
Sei que não valemos a pena...
(Lamento!)

Juntos? Dificilmente ocorrerá
Pertencemos a mundos diferentes
Mas só o destino o saberá...

Não te vás, desgraça ambulante
Eras protagonista do meu sonho
Tornaste-te um ser errante
Fruto de um romance tristonho

Ainda procuro por nós em linhas temporais
Em cinzas perdidas e fraccionadas
Podem denominar-nos irracionais
Mas havia amor entre estas mãos outrora enlaçadas
E agora temos ambos vidas desgraçadas
Cometemos erros descomunais
Lançamo-nos como loucos por estas estradas
Mutuamente motivados por sinais...
Há algo que ainda permanece
Uma atracção que se lança pelo ar
De diversas memórias, há uma que nunca se esquece:
A da primeira pessoa que nos fez amar...


Procura-me!
Hás-de cá chegar
Alcança-me!
"Tenho um mundo para te dar
Basta que apareças..."      LS' 2006.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sensaboria

Estradas terminais e abandonadas
Caneta sem tinta, folha vazia
Malabarismos de vontades desamparadas
Uma sala quente com gente fria
Denotam realidades de um outro dia

Trabalho árduo porém fracassado
Um coração leve, vagamente desperto
Esforço de evolução mal conjugado
Caminho vertiginoso, destino incerto
Deserto... Deserto... Deserto...

Distintos recitais de poesia
Versos arremessados no ondulear do vento
Letras que respiram fantasia
Temperadas com média dose de alento
Lento...Lento...Leeeeento...

Canções que preenchem o ser
Compostas, escutadas sob uso de estupefacientes
Delirantes olhos começam a ver
Formas descontínuas e deficientes
Mentes....Mentes...Mentes...

Verdades que arranham
Verdadeira sensação de explodir
Mentiras que emaranham
Falso sentido de sentir
Fugir...Fugir...Fugir...

Tropêga, aluada e de ideias distantes
Transversalidades que me recuso a entender
Alimentada de ciclos de constantes
Apago os sentidos míticos e continuo a viver
Correr...Correr...Correr...

Fito o horizonte, a mágica aurora
Sigo em frente, para trás não!
Não perco nem mais uma hora
Perdida nos desassossegos da escuridão
Solidão...Solidão...Solidão...
Dá-me a mão...
Dá-me a mão...
Dá-me a mão...


Apre, Chega!
Quanta repetição!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Melancolia

Revolta!
E agora?...
Preciso de ressuscitar
Agarrar o tempo que perdi
Fraseio no mero divagar
Cega por tudo o que perdi
Caí.
Quem me vem levantar?
Ninguém...
À invisibilidade me estou a habituar
Mas precisava de alguém
Repleto de vagar...
Que não me ouvisse
Mas escutasse
Me compreendesse
E ajudasse
Mas não há ninguém
E a solidão já me conhece bem
Todos estão ocupados
Distantes em demasia
Com a vida preocupados
Ausentes da minha agonia
Desalento total
Olhos aguados, infinita frustação
Parem de me fazer mal...
Já me chega esta indignação!

O coração lateja
A alma rasga-se com brusquidão
O inimigo festeja
Dá rédeas a uma celebração
Custa entender, custa sentir
Fartei desta morte em vida
Nem as rimas com fluência estão a sair
Transparecendo a minha ferida

Estou longe de estar bem
E notar isso? Há pouco quem...

Torna-se difícil suportar
Sozinha com os pensamentos, aqui e ali
Muitos te podem rodear
Mas nesta vida... só te tens a ti...

terça-feira, 13 de julho de 2010

Mendigo

Nobreza na sua tela
Rasgões em suas vestimentas
A pobreza torna-se bela
Se de talento te alimentas
Observem-no!
Mendigo ignorado
Repleto de sabedoria em si
É pela vida maltratado
Pedindo esmola por aqui e por ali
Ninguém se apercebe dos seus talentos
Da melodia que toca com vigor
Da poesia que esconde lamentos
Dum coração repleto de ardor
Esbanjou dinheiro noutra vida
Foi enganado por quem tomava de irmão
Não teve senão outra saída
Que a de ir para a rua estender a mão
Pedindo o pão, procurando o perdão
De todos aqueles que maltratara em vão
Aí tem o seu castigo
Personalidade obscura que ninguém conhecia
A falta de um ombro amigo
Para o acompanhar na noite fria
Ali padece de seus males, tão sozinho
Tuberculoso, enche-me de dó
Gostaria de ajudá-lo a encontrar um caminho
Algo que não o deixasse tão só
Oh!
Onde estão os seres superiores
Quando deles precisamos?
A rotina stressante traz-nos sensações de inferiores
Quando na realidade nem para eles olhamos
Observem!
Ali naquela rua!
Um homem cheio de potencialidades
Escondido na fuligem de sua pobreza
Arte e escrita vagueiam pelas cidades
Refugiadas naquele manto de tristeza
Observem!

Nobreza na sua tela
Rasgões em suas vestimentas
A pobreza torna-se bela
Se de talento te alimentas
Vives tão sujo na ruela
De aspirações te sustentas...
Homem de meia idade e acesso restrito
Com imensos capítulos para viver
Larga esse prefácio maldito
Luta! Faz-te resnascer!

Chuva

Chegou tão suavemente
Embala o meu serão
Chuva! Chuva finalmente!
Metáfora que vocaliza o meu coração

Água purificadora da mente
Calmante de ansiedade
Alimento de uma simples semente
Fruto de inspiração para a humanidade

Apagas a dor, acalmas o ser
Carregas em ti infinita tristeza
Expressas em lágrimas quão difícil é viver
No inconstante grito da natureza

E quanta beleza provocas na paisagem
Tens o vento como companhia incessante
Nesta que é apenas uma viagem
Por entre a vida e seu traçado discrepante

Prazer mundano
O aconchego que traz a tua presença
Atrito veloz do calor humano
A extinção de qualquer desavença
Não és passível de ser comprada
Nem por todo o dinheiro do mundo
És passível de curar uma alma desolada
Que se quebrou neste proveito moribundo

Ver-te é uma benção por estar vivo
Tuas carícias na pele são mera poesia
És a força estimuladora do cultivo
O espalhar de crescente eutimia
E continuas a gotejar de hora em hora
Agora subtil, pareces estar a despedir-te
Sei que tens de correr esse mundo fora
Mas volta porque renasço só de ouvir-te!

Sobre verso te enalteço
Empregando a minha sabedoria
E em jeito de súplica te peço
Que limpes esta agonia
Esta mera e falsa folia!
Este triste teatro do dia-a-dia!
Esta forma de ser trôpega e sombria!
Esta solitária minoria...

Gotas e gotículas em corrida
Reflexo de um sentimento de mágoa
Espectros de personagem esquecida
A alma limpa e purificada pela água

Chuva! Chuva finalmente!
Chegaste para compactuar com o meu estado
Eu fujo a cair nesta corrente
Que é do meu total desagrado!
Compactuas com a vida simplista
Estragas planos a mal feitores
Desanuvias a rotina derrotista
Dás leito a novos amores

Dás azo a efeitos mirabolantes
És a calma por muitos esperada
Nas mentes destes animais pensantes
És contratempo, planificação estragada
Pensantes? Mas que piada...

Parem com a força de atrito!
Mas que povo doente!
Ignorando-vos eu grito:
"Chuva! Chuva finalmente!"

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Batalha

É tarde
Muito tarde.
Mas a noite ainda é uma criança
Cortejos de emoções guiados por históricos
Um pingar leve de mudança
Arremessos de gritos eufóricos
Perdidos
Na ínfima esperança...
É tarde
Muito tarde.
Flauteios de pensamentos
Concordância fraudulenta
Frágeis muros de tormentos
São a grandeza que me sustenta
Frases ilusórias mas exímiamente construídas
Encorajaram-me a caminhar pelo próprio pé
Palavras e formas de ser rigorosamente medidas
Deitaram por terra a minha fé
Quero remar contra a maré!
Enfrento e extingo insultos
E ninguém rema comigo
Todos agem como trauteantes vultos
Ouçam-me! Eu preciso de um amigo!
É tarde
Muito tarde.
Já muito passado presenciei
Já muito futuro em vão sonhei
Mas esta gente está tão viva como morta
Aos meus sonhos fecham impiedosamente a porta
E não há caminho para eu seguir!
Perdi tempo em aqui vir!
É tarde
Muito tarde.
Sou um figurino com defeito
Outrora com alma aventureira
Sou um ser com essência de imperfeito
A certeza de uma morte derradeira
E o tempo corre de mim!
E o relógio imparável!
Aproxima-se o fim!
Oh prolepse miserável!
Estou aqui! Estou aqui!
Em vão...
É tarde
Muito tarde.
Acorda! Faz-te à vida...
Não deixes que seja tarde
Muito tarde.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Divergência

Recuso-me a ser espectro perdido
Nem sou fiel à invisibilidade conquistada
Fartei-me deste mundo convencido
Desta história mal contada
Quero ar, quero ar!

Levem o barulho daqui
Porque eu quero ouvir guitarras
Dó Ré Mi Fá Sol La Si
A libertar-me destas amarras
Quero ar, quero ar!

Quero possuir-me por doxomanias arrepiantes
Quero deslocar-me e estar sozinha
Quero embarcar em frotas viciantes
Ficar bem longe desta gente mesquinha
Quero ar, quero ar!

Opiniões? Fora!
São frases feitas, repletas de defeitos
Já perdemos uma vida por a toda a hora
Tentarmos ser perfeitos e
Não tenho de te agradar!
Deixa-me respirar!
Eu também sei escrever por linhas tortas!
Sei resolver os meus inolvidáveis problemas
As tuas palavras inoperantes são sabedorias mortas
E digo que não relutantemente aos teus esquemas
Quero ar, quero ar!

Chegou a chuva da mudança
Explicitando que nada dura para sempre
Não te cegues pela promessa de confiança
Quem te jura, mais te mente!
E se me tivesses escutado tudo seria diferente!
Adeus!
A chuva é companhia passageira
E eu tenho de me apressar
Levo sonhos na bagageira
Desejos e objectivos a alcançar!

Quero ir, quero ir!
Deixem as guitarras despertar
Façam silêncio, deixem ouvir
Este acorde a trovejar!
Ai! Quero ar, quero ar!

Metáfora

Pequena lagarta assustada
Fugitiva e alerta
Pelas fendas da rocha à debandada
Com medo de ser descoberta
Veloz e determinada
Segue o seu caminho pós-perigo
Procura o tudo, encontra o nada
Esforça-se na esperança de achar um abrigo
Um abrigo convidativo
Por onde possa descansar
Desta vida de ser rastejante e fugitivo
Que teima em não acabar
Desaparece, perco-lhe a vista
Já não tenho que observar
Cansada pego numa lista
Com as tarefas a realizar
E esqueço a lagartixa que se foi
Tenho mais que fazer
Mais em que pensar
Tenho muito que viver
Muito para desperdiçar
Sou como a pobre lagarta
Que procura o seu lugar
Não quero viver em vão neste mundo
Quero-me encontrar!
Quero-me achar!
Estou em corrida contra o tempo
Antes de em pó me tornar...

Xô!

Carrego potencialidades desconhecidas
Inúmeros talentos em notas de rodapé
Possuo um historial de acções banidas
Típico de alguém que não sabe quem é
Viajo em pensamentos sem fiança
Vejo malabarismos de palavreado
Deixo escapar-se a frívola confiança
Cruzo os braços, em desagrado

Fricciono aquelas velhas histórias
Limo-as, tentando-as entender
Subtraio-vos e atinjo somatórias
De tudo o que tenho andado a obter
E lanço desejos ao vento
Procuro por marés vazias
Nos olhos trago infinito lamento
Pela realidade dos nossos dias:

Esforços sem saída, pessoas conflituosas
Combatem-nos,  dão (quase) tudo
Metem-se em vias engenhosas
Já que o mundo é surdo e mudo
E de nada me adiantam as prosas!
Está tudo do avesso, tudo sem sentido
E sinto-me uma peça dispensável
No meio de um jogo perdido
E onde está aquilo que julgo amável?
Ah pois morreu, tinha-me esquecido...

Tirem-me do meio desta gente
Porque com eles eu recuso-me a socializar
São doidos varridos! Torna-se urgente
Alguém com habilidades divinas para os educar!
Tirem-me do meio desta falsidade
Que com ela eu já não habito
Poupem-me os elogios e a insanidade
O meu nível de tolerância tornou-se restrito!
Tirem-me do meio deste planeta
Onde a solidariedade se confunde com a hipocrisia
Tudo é equivalente a uma simples treta
Que usam para nos equivocar a cada dia
Tirem-me destas manobras de diversão
Deste diz que não diz passageiro
Desapareçam! Saiam do meu espaço de visão!
Não me causem mais nevoeiro
Xô! Desapareçam-me com a boa intenção!
Recuso a minha prisão neste engano rotineiro!


Grito
Revolto-me
Desligo.
E toca a andar!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Lembrança

Estando junto da cascata
Senti o refresco trazido pela água
Ouvia os sons vocalizados na mata
E desligava-me da minha mágoa
Que felicidade me possuia!
Sentia-me cúmplice daquela floresta
Para as estrelas, com o olhar, sorria
Sentia todo o meu ser em festa
Tinha a noite como companhia
Nunca havia sentido tal leveza
Os seres nocturnos entoavam uma melodia
Que enchia a noite de beleza
Estava uma noite fria, mas meu coração estava quente
Do parapeito da janela alguém me dizia
"Agasalha-te senão vais ficar doente!"
Fingia que não ouvia
E sentada, explorava todo aquele ambiente
Recordei-me de histórias da minha infância
Contadas pelo meu avô com os cansados olhos a brilhar
Recordei aquela minha miúda ânsia
Aquela impaciência de saber como iria terminar
Quem me dera tê-lo por perto
Ouvi-lo contar seus feitos, orgulhoso
Ouvi-lo falar do que estava errado e do que estava certo
No seu nobre conhecimento de idoso
Aquele ambiente pacífico trouxera-me nostalgia
Lembrava o jeito, a paciência, o vagar
Com que meu avó insistia no primeiro dia
Em que me ensinara a pintar
Mas eu insistia em colorir faces de azul e a íris vermelha
E fazia-o alegremente gargalhar
Exausto da lição, chamava-me a sua fedelha
E pela mão me levava a passear
Lembranças trazidas pelo destino
Encaminhadas talvez para me alegrar
Porque sobre mim própria não tenho dominío
Sou difícil, pareço não saber como me animar
Precisava dele aqui, talvez
Para me fazer pintar sonhos
Precisava de ouvir o seu "Era uma vez"
Para afastar pensamentos tristonhos
Então levantei-me e caminhei na direcção do meu lar
Tornei a olhar as estrelas e a sua imensidão
Nelas vi uma forma especial de brilhar
Como se elas adivinhassem meu coração
Nele habitava o avô pronto para mais histórias me contar
Então deitei-me, fechei os olhos e esperei
E rapidamente as comecei a sonhar...

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PS: Já lá vão 11 anos mas, para mim, nunca partiste
E vejo-te em cada estrela quando me sinto triste
Este céu da madrugada e uma foto fizeram-me lembrar-te
Um dia, espero limpar estas lágrimas, ver-te de novo e abraçar-te.
Um dia vou pintar contigo, um dia. Até um dia.

domingo, 4 de julho de 2010

Contrastes

Chuva de sentidos
Loucura implícita no verbo ser
Fracassos e egoísmos vividos
Cegas influências do poder
Fomos vencidos!

Semelhanças e diferenças
Guerreiros e falhados
Politeísmo e árduas crenças
Uns certos, outros errados

Chegadas e partidas
Dinheiro, pedaços de pão
Largadas e fugidas
Um carinho, um soldado que cai no chão

Um som forte e outro suave
Um respirar ofegantemente lento
Um mamífero, uma ave
Uma hora e um momento

Invenções e paradoxos
Muralhas, lendas e fama
Cristãos e ortodoxos
O chão e uma cama

Ciclos e reviravoltas em cascata
Surpresas e costumes
Um traz à vida, o outro mata
E todos têm seus queixumes

Seres complexos ou simples em demasia
Problemas, tentativas, soluções
Estúpida ganância, fome, azia
Paz, tolerância e munições

Vingança, matança e racismo
Gastos supérfluos e um povo desfavorecido
Violência, confrontos e terrorismo
Humanidade castigada, fim merecido

Há um contraste no mundo
Arrastando-se por todo o lugar
Mas não só o rico, também o moribundo
Tem seu direito de amar
Portanto deixem-no passar!