sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Está? Estava! Estava? Esteve!

Moldei um sonho e fi-lo construir uma ponte entre nós
Entre riachos fecundos e primaveras
Entre árvores desnudadas, protagonismos, quimeras
Larguei-o, ao vento, perdi-lhe o rumo.
(Quem o agarrou e lhe deu vida?)

Sobre os verbos amorosos proferidos
Debrucei-me (na lua) e deixei-os soltos (na noite estrelada)
Em actos de comodismo e falência de emoção
Deixei que envelhecessem e, agora...?
Agora não valem nada.

Cravei as garras
Sobre o tempo e os pedidos,
E as narrações e as vivências
E as vozes e as insistências
E Alguém...
Alguém puxou a carpete que me sustentava e caí,
Desorientada entre um perder de sentidos
E o sabor da lágrima salgada.

Entendi então a noção
De cada palavra, bela e trabalhada,
Num misto de pétalas negras e ditaduras do coração
Que fizeram de nós fachada.
E todas estas feridas teimosas
Deixam-me com cor de insatisfeita a rir
No vazio dos passos de direcção ao precipício
Que imagino e que desejo (por tudo!) existir.



... Uma casa simpática na montanha
E o teu belo sorriso de criança...                            Ilusões de óptica?


Já não sei, já não sei de nada...




domingo, 16 de janeiro de 2011

Levo-me, levas-me, matas-me

Levam-te as pupilas gustativas mumificadas em insaciedade
A encornar todas, sem dó
Nem um mísero de piedade.
Levam-te as garras afiadas
Que cravas a fundo, a prender-nos
Possuindo-nos,
Largando-nos num solitário fim de mundo.
Catastrófico a cada milésimo de segundo!
Levam-te instintos animais e burlescos
A obedecer ao estímulo de cada par de pernas
Vives de suspiros, gemidos e prazerosas carnes
Consumidas em movimentos animalescos;
Em mim sensações de morte efémeras!
Ah esses lábios vistosos
Comungantes de mim, dela e da outra (...)

Levam-te os companheiros à caça
De outras presas estupidamente indefesas
Que comes, abusas, despes e despedes
Num palreio de palavras belas,
Cuspidas em tom de nobreza.
Levo-me por ti
E para mim nada de prazeroso
Nem de sorridente folhear de páginas...
Tu nem de mim te levas...
Deixas-me sempre sem rumo
Com pontos de interrogação
E exclamação pelas recentes engrenagens...
Deixas-me sempre mas sempre
No canto inferior
Direito ou esquerdo
Ou tão somente só, a vaguear
    dividida, em cada ponta das margens...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A tua linguagem

Uns acham-na uma conjugação nobre de ramos numa jangada
Eu acho-a suja, horripilanta, velha, desgastada!

É tão barata como a pêga da rua
Que se enfeita de pó de arroz pela madrugada

É como penas em vacas
Não servem para nada!

É reles como o sótão levado pelo tornado
Aperaltado de madeiras gastas e falhas no soalho

É flácida como porcos em currais
E vorazes lobos de cruel tamanho

É falsete, composição inacabada numa pauta amarela
É mentira, discrepância, ultraje, balela!

É maleável como a amiga insegura
É deveras rude tal plasticina de pedra dura
É vociferante e espigada, levando-me à loucura!

É extensível como o universo
É um latim falso, tropeado, num palavreado disperso
É tudo o que se espera de adverso
De uma vez por todas limita-te a ficar        Calado!

É fácil, muito fácil, para quem vive de complicações
É chaga, sangue vivo, para a pleura dos meus pulmões

É longe do exaurível e inquestionável, oh pobre pateta alegre!
É nas veias rubor e raiva, um caldeirão de mortífera febre
(Não há quem te ature!)

É tão galante como subúrbios onde paira a fome
É a injúria, o maldizer na forma de homem
Xô? Que seja!

Só mais um pouco de metáfora ou como lhe queiras chamar;
És a maior melga da minha colmeia
A cigarra que mais canta no aldeamento de formigas
Tão desejável como um copo de vinho tinto
Quando a bexiga reclama de tão cheia!

És matéria sem sucesso, mal explorada!
E vá, deixemo-nos de eufemismos;
Nada és mais que uma alma desgraçada!

És a bruxa das histórias de sonhar
A bela da maça envenenada por estrear
Bolorenta e carcomida;
Não ouviste?      Sai !
Põe-te a milhas da minha vida !

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Floresta Em Sonho



Grandes letras por um homem controverso mas fascinantemente sábio. Adolfo Luxúria Canibal !