sábado, 8 de dezembro de 2012

Descoordenação dos sonhos

Olho-te: és calma como a brisa
e tempestuosa como o mar.
Carregas o doce ameno cantar das aves
Nas abas largas do teu sorriso.

Olhas-me: devolvo-te
O olhar rosado de final de dia
As cores alinhadas no horizonte
Os sons marítimos ondulantes
A areia tão leve, tão suave, tão nostálgica
Como as rochas carregadas de moluscos
Que se perderam nos fundos do mar.
Fundo, fundo, fundo.

Olhamo-nos na certeza de um sorriso
Na igualdade de condições.
Somos privadas de destinos
Segurando cartazes de revolta
E gritos descoordenados pela rua.
Gritos como sonhos tão sós
E inatingíveis.

Surdos, loucos em abafo,
Nós.
Eles.
Os outros.

E tudo se perdeu na essência do perder
Para se encontrar no centro das coisas descobertas.

Sorrimos no final de tarde leve
Tão contrário aos nossos corações.

sábado, 10 de novembro de 2012

Eis endiabradas
Loucas disfarçadas
As essências dissimuladas
De lobo em pele de cordeiro.

Tiro certeiro no relógio do cuco.
O cuco morto no chão.

As sombras pitorescas
Dançam em redor da estrada nua
Beijam-te os pés
E deitam-se pelo chão
Aguardam que te unas a elas
Sê minha, serei tua
Seremos um só corpo, um só trovão.

Tiro certeiro no relógio do cuco.
O cuco morto no chão.

Deita, deita
Respira, expira
Inspira as palavras
Vomita-as em evaporação
Deita, deita
O sentimento que te mata
Tão doce...
Oh, contemplação!
 Fossem as estrelas tão luminosas
Como a luz do teu sorriso...

Tiro certeiro no relógio do cuco.
O cuco morto no chão.


Já chega.


Acorda o cuco e chega-te para lá!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Danças da vida

Eis a época mais bela do ano. Cores de vitamina no céu e calor humano no acolher de uma casa repleta de familaridades. As nuvens fagucitando a humidade e explodindo em trovões, numa ebulição tão outonal como as folhas douradas pelo chão. As árvores desfizeram-se delas, largando-as numa dieta natural. As crianças correm a apanhar as vestimentas despidas para posteriormente, as secarem e, as colocarem em portfólios que a professora rechonchuda lhes pedira. Era uma professora de jeitos suaves com grandes olhos de cor de Outono e mel. Tinha quase 50 anos e toda a sua vida fora dedicada ao ensino da pequenada. Agradar àquela professora era aliciante.Vê-la a sorrir de aprovação e contentamento era a meta que todos queriam alcançar. Como caía bem aquele sorriso! Era como se a neve lá fora caisse e o conforto morasse no nosso lar, apetrechado de lareira e muitas bebidas doces e quentinhas. Era o sorriso mais reconfortante da vida, ainda curta, daqueles meninos. A professora sabia-o bem e então sorria, sorria muito para alegrar o coração dos seus filhotes tão dedicados. Para ela, todos os seus alunos são andorinhas frágeis que ela educa com primordiais doçuras conjugadas com regra e disciplina. Quando estes crescem, ela os liberta com o carinho mais belo do seu coração e os olhos aguados. Era uma escola simplória e os seus alunos de uma classe baixa e esforçada. Eram abençoados pelos olhos de mel e o ensino de uma mãe emprestada que, ensina a vida e os principais modos de estar e de ser, durante quatro curtos mas acertados anos.
Lá fora, os ramos dançam com o vento e vão ficando à mercê , tão desamparados, tão nus e tão frágeis. Preparam-se para longos abalos e tempestades imprevisíveis. Eis uma bela representação do ser humano, que sempre me ocorre nesta época. Dançamos com as preocupações, num esforço contínuo de suor até à última pirueta. Os fortes aguentam a dança, dão saltos mortais e arriscam. Os frágeis sentam-se no canto a ver os outros dançar. Os bailarinos sorriem triunfantes na fase final do seu rodopio. O compasso dita os movimentos, os pés ditam o caminho. Dancemos.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Incoerências mentais e copas à mistura

Todas as delicadezas do mundo
Não valem um sorriso esborratado
Pelo baton cravado no fundo
De um porto de abrigo desabrigado.

Todas as eucrasias
Não valem um político sem política
Uma esposa sem amor
Um discurso sem perícia
Caminho desenfreado para o paraíso negro
Da dor.

Esfuma-se o rio
Nas suas cores mortas e subtis.
Eis a hora de desenhar os pontos nos i 's.

Na vanguarda,
As sombras com facas no punho.
Esfaqueiam os sonhos.
Matam os corações.
Desfazem os legados.
Caem por terra, um por um,
Para o destino a todos reservado
                       Porque não há amor que lhe aprouve.

Os sentires tão voláteis
Como feras soltas ao vento
Pintam de vivos os mártires
Nestes baldios sem destino
De um porto tão sangrento.

Segue o rio a ferver
Uma lágrima despenteada
Uma espada na relva
Uma cabeça cortada.
É a do rei.

BAM! BUM! BAM!
E a guerra começou.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Pitadas de carinho temperadas com pôr-do-sol e flores frescas

Traz-me o céu, o mar, a água.
O vento, a areia e o sol.
Traz-me a natureza equilibrada e os barquinhos de papel.
Traz-me a vida, o rir e o sonhar
O mapa da estrada dos sorrisos e as flores perfumadas nas margens.
Traz-me os animais, o descanso e a euforia
de dias de Carnaval imaginados.
Traz-me pedaços de purpurina e pétalas nos teus olhos tão belos quanto grandes.
Traz-me a chama de carinhos fervilhante
E faz uma fogueira tão calorosa quanto o teu abraço.
Traz-te e traz contigo o viver
porque a amar é que a gente se entende.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Reflexão sobre a noção utópica do estrangeiro como potência superior associado ao ponto de vista literário


Ideias que emergem em torno da problemática do capital e influências que a economia tem na visão dos diferentes países do mundo, infiltram-se nas perspectivas de qualidade e competência, surgindo juízos de valor errados acerca do que se produz, diz e faz em cada país. O ser humano parece ter inscritos, no seu código genético, codões que codificam a noção de que o dinheiro que determinados países possuem, os torna superiores em tudo relativamente aos demais.
Um país rico irá ter mais capital para investir no mercado livreiro e em produções de arte e, por isso, serão mais numerosas no mercado as obras que produz. Consequentemente irão ser mais comercializadas e colocadas por diversas vezes em best-sellers que são vistos, de forma errada por vezes, como excelência representativa. Assim, alimenta-se a ideia de que o estrangeiro é superior, ideia essa que é quimérica uma vez que o que o torna superior na literatura são os meios financeiros que possui para disseminar e dar a conhecer as suas produções. Deste modo, os indivíduos irão sempre guiar-se pelo que um país mais desenvolvido construir, associando-lhe a conotação de superior, independentemente dos factos que provam que o estrangeiro não o é na sua acepção mais radical (poderá ser na economia, no ordenamento de território, entre outros mas de forma alguma será ilustre e superior em todos os domínios e áreas.).

Nota: Esta ideia de “estrangeiro como superior” está presente até nas línguas leccionadas nas escolas. As línguas mais leccionadas e consequentemente mais faladas no mundo, correspondem aos idiomas de países endinheirados.

Estudos Culturais, Adriana Cunha - 06/2012

sábado, 16 de junho de 2012

Devaneios de Maio

Muitas pessoas irão passar na tua vida. Irão surgir com toda a sua heterogenidade nos caminhos pelos quais te moves nesta esfera viciosa que é a vida. Uns em forma de alegria outros de tristeza. Trarão desilusão, lições de vida, sorrisos e gargalhadas, partilha, confiança, o quebrar das barreiras com as coisas comuns. Umas doces, outras amargas. Ainda outras agridoces.
Irás reduzir toda a complexidade em analogias. Café, tabaco, outono. Lavanda, vestidos e Primavera. Simples.
Umas irão dar-te a essência a conhecer. Outras esconder-se-ão no limiar da hipocrisia e irão fechar os olhos às tuas necessidades. Outras vão surgir, marcar e fugir. Vão deixar-te de coração nas mãos e respiração travada. Vão matar-te mais um pouco a cada dia. Outras ainda vão lutar contigo nas horas tempestuosas.
Não será fácil a jornada, não será fácil discernir entre essências emergidas em nevoeiro e uns tantos tragos de alcóol. Pessoas são difíceis por apenas o serem. São figuras estranhas com actos locutórios retorcidos como nós cegos, traçados com raiva e dor acumulada no corpo que late. Pessoas são tempestades. Eu estou a relampejar. Saiam do meu caminho.

As pessoas são estranhas e o estranho encanta-me

As pessoas mudam e nós, na rotina do dia-a-dia, não damos por ela. Quando os horizontes são outros e a língua que falam se torna diferente da nossa é um desconsolo miúdo. Quando os sentires deixam de ser comuns e somos colocados fora do círculo que delimita a sua intimidade, cai mal como um trago de água quente num dia infernal de Verão. Quando nos excluem, excluem uma parte de nós. Exclusão é negativa mas, com o tempo, tende a deslocar-se para o outro pólo. Aprende-se, vive-se, entranha-se e é nestas alturas que o que realmente precisamos surge. Aqui estou, nesta sensação pela enésima vez. Mais uma vez. Mais um ciclo. Uns chamam-lhe crescer. Eu chamo-lhe vida.

Auto-biografia ( 04-06-2012 )

Falemos de mim.
Tenho um rol de defeitos teimosos que vêm à tona constantemente. No entanto, há algo de que me orgulho especialmente: a minha escrita. Em momentos de inspiração (nocturnos grande parte das vezes) torno-me um ser pensante no seu expoente máximo. São estes momentos que me levam a personificar o coração nas letras. A largar toda e qualquer problemática do dia-a-dia e a deixar que a escrita surja, ao de leve, como um floco de algodão doce. 
Adoro metáforas simpáticas. Invento-me nelas e vou-me descobrindo. Sou tão simples quanto complexa. Num dia posso ser mar adocicado por ondas bailarinas, noutro tempestade em fúria e comandantes sem navio.
Estamos em Junho, são 4 da manhã, tenho 19 anos e a minha maior certeza é esta: pertenço ao universo das letras.

Por isso te digo

Palavras são só palavras. Gestos são só gestos. Porém, se os colocarmos no mesmo caldeirão de saberes e sentires são capazes de mudar vidas. Ou mesmo salvá-las. Histórias tomam sabores agridoces e abraços são o porto seguro de um coração abalado e adormecido nas abas do sorriso da pessoa amada. Por isso te digo que pratiques as dicotomias. Dicotomias dão-te calor-frio, medo-coragem, cansaço-energia, como as mais belas pautas de melodioso amor. Por isso te digo:
Planta amor e colhe sorrisos. Planta amizade e colhe companhia. Planta sonhos e colhe realidades. Todo o contrário é erro de cálculo e todo o cálculo transborda perfectibilidade natural. É este o caldeirão das poções mágicas e perlimpinpins que definem a sustentabilidade de um todo. Assim, sei que sou flor de vaso de hospício. Sei que comungamos do mesmo ar e somos loucamente alegres. Somos hospício calculado. Tudo com pitadas ásperas de nada. Dicotomias. 

Perímetro

A incógnita do minuto seguinte encoraja-me a viver com mais ser. Leva-me em analepses e prolepses encruzilhadas como nós cegos na caixa dos rascunhos onde vivem amores proibidos de trovadores sem musa.
Cada minuto é mais um pouco de ser que se gasta. Eu procuro gastá-lo bem. Então sou sorriso, flores e cabelos longos ao vento. Sou brisa de Primavera e chocolate quente e cobertor de Inverno. Cada um tem de mim o equivalente ao que me dá. Se nada me dás, falta nenhuma farás aos meus dias. Se me sustentas os dias, luto por ti com armaduras de cravos e hortênsias. Tão simples como o sol que brilha lá no alto todos os dias. Tão simples como a lua que te ilumina os passos saltitantes de felicidade. Se souberes viver-me, viver-te-ei em plenitude.

domingo, 27 de maio de 2012

Tão tu

Se cada grão de poesia lançado
Alimentasse o teu peito de esperança
Serias um vulto enamorado,
Um corpo adulto em mente de criança.

Terias a brisa primaveril no coração.
Serias tu,
Tão doce
Tão dormente
De sorriso no rosto suado
Dos prazeres quentes da noite
Serias corpo reflorescido
Na amargura do presente.
E o futuro a quem pertence?

domingo, 13 de maio de 2012

Estragam-te os sonhos, a alma e a vida, choram e esperneiam por mais

 Os ares que respiras mudam-te, moldam-te, roubam-te o ser que és. Já não és original e os trejeitos são ensaiados pelos outros. Eras actor solene no palco da vida mas a fama consumiu-te o sangue do corpo, cravejou-te meia dúzia de punhados no peito e furtou o pouco oxigénio de ser que te bafejava. A multidão aplaude enlouquecida. Está um sujeito no palco.

Não és tu.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Primavera no coração

Pinta-se o céu em tons róseos
O sol sorri em jeito de citrino
Corre na calçada com seus traços mimóseos
O encantador pequeno de olhar cristalino.

E tenho em mim doces sentimentos
Sou bailarina de histórias em cordel
Rodopiando sobre fingimentos
Tenho um belo príncipe em cavalo de papel.

Tantos são os tesouros musicais encantados
Criados pela mais sublime veia poética ao redor
Mas, de todos os sons alguma vez inventados,
O mais belo é o do teu (sor)riso,  meu amor.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Iris

Somos vultos primaciais numa história repleta de floreados.




Somos um punhado de sonhos em pó com aroma de chocolate.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Senhor Zé (que dá direcções e indicações)

O sonho dá-nos direcções e indicações como o velho senhor que repousa na esplanada e conhece os cantos todos à cidade. Veio quando ainda era moço dos lados de Alverca e por aqui se enamorou, casou e fez vida. Sabe 5 línguas e fala com os turistas perdidos pela cidade.
Nos tempos livres faz pinturas exímias de paisagens que nunca visitou, de feições que lhe surgiram em sonhos, de jeitos que esmiúça nos transeuntes que o circundam. É solitário. Os seus mais fiéis companheiros são o tabaco e o café que paga com trocos gastos e quase negros. O jornal é a sua fonte de informação porque opõe-se, a pés juntos, a todas as modernices. Tem companheiros de café igualmente solitários que discutem com ele a política, economia, cultura e a música. Não gosta de desporto. 
- "Esses Ronaldos, Messes e compinchas ganham demasiado dinheiro e parecem umas mulas. São miúdos de egos altivos, irritantes e desprezáveis só porque esses palermas dos jornalistas os glorificam. A mim não me fazem diferença alguma!" 
- "Mas oh Zé, eles dão nome ao país de onde vêm bem como reconhecimento mundial! Isso, trazem turistas ao país que dão mais dinheiro ao comércio!"
- "A mim não me dão nada, não me trazem nada, não me fazem diferença. São mulas falsas e apegadas a grandes luxos! Ao pontapé era com eles!"
- "É verdade mas tomemos uma perspectiva sincera aqui!  Qual o homem que não gosta de vida fácil e regalada, diga-me lá? Que não gosta de acordar com tudo feito e imensos luxos ao seu dispor? O café na mesa, a roupa lavada, a essência a lavanda pela casa..."


A conversa dissipa-se como o fumo do cigarro. 
O corropio das ruas é imenso, é hora de almoço. Uns com sandes na mão a correr enquanto falam ao telemóvel. Advogados imagino. Outros espalhados pelos restaurantes, pelas tascas e pelos pequenos cafés. Pessoas de aparência humilde, senhoras que carregam sacos da Louis Vuitton, homens de negócio com jeitos estranhos no falar, velhos que observam as pombas e as alimentam, os mais jovens nas filas intermináveis para aquela comida que os americanos lhes impingem e que os torna redondos como bolas de berlim. 
A cidade em movimento, o buzinar dos carros, a rapidez de uns, a serenidade de outros. A mudança do semáforo. Peões em corrida. O céu azul e os pássaros a cantar sob a borda dos chafarizes. O mundo do senhor Zé que dá direcções e indicações na mesa do café enquanto resmunga da artrose que lhe pica o corpo. O seu dia-a-dia de observador que transpõe para trabalhos pictóricos muito apreciados pelos entendidos de arte. O senhor Zé não os quer vender. O trabalho dedicado e as pinceladas do coração não devem ser vendidas por preço algum. O trabalho dos sonhos é mais do que um simples trabalho. Trabalho implica receitas e planificações. Trabalhar os sonhos é lutar para que eles fiquem menos disformes, agarrar numa corda firme e encurtar a distância à realidade, é alisar os paralelos levantados do caminho e alcançar o pretendido. Sonhar é o que é preciso para não deixar o coração doente porque os sonhos flutuam sobre o nosso coração como uma nota musical em compasso melodioso pelos céus da outonal cidade, trazendo-nos a paz, a força e o vigor necessários para enfrentar os monstros impiedosos dos nossos dias. Os sonhos voam,voam,voam. Alguns perdem-se, outros ficam presos nas varandas altas dos prédios, outros alcançam a meta a que se propuseram. Outros ainda, partem-se em pedaços e espalham-se para criar novos sonhadores.Viver sem sonho não é viver. O sonho move-nos. O sonho dá-nos direcções e indicações como o senhor Zé. Ele é, também, um sonhador nato. Aguarda pacientemente o dia em que a esposa o reconheça mesmo sabendo que a sua degeneração não o permitirá. Mas ele aguarda na sua nobre alma de sonhador.