segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Clones

Segue o cortejo de palavras escravizadas por acções banais e eruditas. Estou apeada no centro, imortalizada atracção principal deste circo de falhanços e erros de perspectiva. Tenho de partir para fora deste círculo e riscar uma recta, longinquamente oblíqua para poder deslocar-me sobre ela e vocalizar um suspiro nascido no meu interior. Estou enjoada dos passeios entre o raio e o diâmetro, das passadas entre um e outro causadoras da ilusão da mudança, do jeito fulminante com o qual me apercebo que ambos se deslocam para o círculo... Aquele tão venenosamente vicioso ciclo que me dá vómitos de rotina e de aborrecimento, tornando-me nauseabunda por um futuro que não passa de presente.
Travem essas garras quebradiças que mal eriçadas caem por terra, enterrando-se sobre desenhos fulcrais à vossa existência incompatibilizados com a minha obra. Deixem-me invadir os meus selvagens e robustos caminhos e traçar as minhas sucessivas rotas sozinha. Não quero conselhos sábios, porém desfeitos e subestimados, por pessoas sem culto que os lançaram para níveis de imundice extrema. Extingam os limites da vossa presença e deixem-me passar entre as vossas encruzilhadas e armações de máximas de vida que me recuso a reter, tal é a miopia cega que me acerca neste nevoeiro de quereres e uso desclassificado dos meios e dos excessos de vontade.
Vá, não gastem esse latim em palreios disfarçados do que são em tentativas de se exceder para causar espanto em mim. Recuso espantos com tão míseros discursos vindos de seres meramente inferiores, aliados à sua própria falta de consciência. Não tragam serenatas melodiosas em forma de subjectivas telas vazias como o vosso intelecto. Não façam música de pensamentos e reflexões que desconhecem e tornam estupidamente vulgares... Sim, apenas vulgaridade se induz dos vossos lábios secos pela mentira e pela cobiça... Vulgaridade residente no fedido suor que transborda das vossas fontes de resistência, cansadas pelo esforço meditado de inconsciências sombrias que vos pelam, vos esfolam, vos matam, vos chacinam um por um, cada palmo dos sentidos. Xô!
Eu quero ar limpo, leve, suavizado por brisas acolhedoras e só minhas! Quero o meu mundo sem vermes suculentos que aparentam subtileza de retoques imperfeitos sob a luz do luar. Quero chafarizes de teorias soberbas, sustentadas nas realidades a que sobrevivo. Prefiro sobreviver a viver já que os conceitos se deturparam de tal forma que não sei agarrar o suposto certo-errado.
Quero ser única, não estranha nem diferente, não por maus motivos nem por uma necessidade de me afirmar, quero ser única apenas, nos recônditos das acções, nos fins a que me proponho findar de propósitos munidos pelas palavras que vocalizo. Já vocês são e serão meras cópias uns dos outros, criadas por mentalidades repletas de perícia que vos moldaram à sua imagem e vos tornaram areia do mesmo saco, implantes semelhantes sem retorno nem objectividade. E eu recuso-me a embarcar na vossa jornada simplista e mundana!  Vocês julgam afirmar-se perante excessiva popularidade e atenção mas no fundo de cada pedaço de vida que vos agarra, são todos iguais...



"Cada ser é único, sendo provido de um património genético exclusivo (DNA) que é a sua marca de identidade e o distingue de todos os outros."   
 - Pois pois, é capaz...

Não




Everybody's changing...
and I don't feel the same!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Por um fio

Tenho mágoas soterradas e inúmeros quebra-cabeças interiores, uma dor brotante não passível de comparações e uma fragilidade que me acerca nestes dias vulgares. Tenho dores! Tens dores... de circunstâncias e enfermidades diferentes e termináveis. A tua dor é física, a minha é psicológica. A minha dor é incurável, a tua vai-se com o tempo, assim como as nuvens. Tu és as nuvens, eu sou o céu que se levanta das trevas e solta vociferações em pergaminho usado, deturpado, negro, num vasto historial de acções fedidas e perdidas pelo tempo, de voo rápido, de fins propensos à minha célebre destruição nocturna de frustrantes surrealismos. Sou a colossidade de ideias que jamais alcançarás. Sou demasiado complexa para o teu ser matinal e confortante. Somos opostos e não, opostos não se atraem e eu repelo-te quanto mais posso porque a tua presença entranha-se em mim e torna-me diabolicamente suja. Torna-me nua das capas que me sustentam e das máscaras que manuseio a meu jeito. Torna-me frágil, insustentada, sem teoria e crucificada numa prática de pregos infernais que me prendem ao teu mundo. 
Vai, leva esse encanto para caminhos entrecruzados de desfolhadas sucessivas! Leva as minhas entranhas fraccionadas, o corpo imprestável que possuo, a voz que não se pavoneia do que sente e que esconde a verdade dos fragmentos de que sou composta. A cada alusão tua, cada poro de mim contamina-se com memórias e realidades crepitantes que me derrotam e denotam silenciosas melodias na cegueira dos meus salgados olhos.
Tornas-me pestilenta, impassível, aguda e mortificada pela tua imagem. Esborratas o vermelho do meu coração de anatomia fraca, escavas entre as minhas veias e cruza-las com artérias desproporcionais gerando pontes que são fulminantes e os glóbulos oculares saltam, rolam e caem sobre a tua fotografia! Venerando-a numa cegueira descomunal que enche a íris de vida, deixando o resto do meu corpo numa procura enfadonha sem resultados nem significações. É irónico como sorris e ris, gargalhando a bom grado da minha penúria, da minha sombra, do vulto que me acerca para me levar daqui e me lançar ao vento, na proa de tempestades e colossos de questões adversas... É irónico como me deixaste desamparada e ainda me empurraste pelo precipício de milhares de quilómetros de altitude... É irónico como eu sobrevivi para me cobrir de mazelas em noites geladas e purificadas pela chuva atroz que me desfigura a face. É irónico. O amor é irónico! Tão irónico que a imaginação voa e saem erróneas realidades que não têm o menor sustento nem fundamento num mundo de mentalidades construídas por enganos verdadeiros. É irónico, é tudo irónico...



Pintura de Salvador Dalí

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Tempestade

Caminho só com a minha lamúria
Pisando a lama e os socalcos da calçada
A noite brota rios e penúria
As gotinhas palreiam uma melodia sossegada

Sem anúncio, trovões espelham violetamente suas fúrias
Erguem-se do seu pedestal, ferozes
Prometedores de um relampejo de injúrias
Nervosamente libertando energias atrozes
BRUUUUUUUUUUUUUUUM!

É hora de me abrigar!

Lá longe...
Na proa do navio padecem esforços conjugados
Homens que sucumbem... Mortalmente afogados...
Na ânsia de glória e de conquista
Por ali ficaram encalhados...
Telepaticamente suas mulheres sentem aflição
Soltam vasta água sofre a face enrugada
Sabem que algo não correu de feição
Que a viuvez é a realidade alcançada

O mar sobressalta-se, forma remoinhos!
Segue praia fora a engolir!
Abre aos pescadores os caminhos
Avisando-os que é hora de fugir!
E corre pelas cidades, pela aldeia
Inunda as bordas dos corações
A classe nobre sofre em maior peso a cheia
É levada na enxurrada de devastações!
É a vingança dos homens apeados
Presos no mar contra suas vontades
É a vingança dos deuses afamados
É o fim do mundo das vaidades
Profecia cumprida, salvé os revoltados!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Lua Cheia

Clarão de assombros em queda exorbitante
Iluminador de espaços compreendidos entre esquinas sombrias
Transporte de mitos urbanos, de terror aspirante
Depósito agrário de promessas de casais e suas alegrias!

É o luar...
Soberbo!
Sublime!
Fruto de temperança!

Relampeja na lembrança
Lobisomens, furtivos lobos, eternos vampiros!
Aos olhos de uma inocente cobrança
De amantes é fruto de amor consumado e suspiros...
De prazer recôndito, de corpos em união
Abraçados pela luxúria, de cabeça na lua bafejando sua paixão...
Entrelaçados na arte carnal, comungando de pecados empedernidos
Ausentes da vida lá fora, adquirindo na sua arte ritmos embrutecidos!

E o mundo lá fora está ausente deles
Desfalece-se sobre eles...
Prevalece neles e encandeia-se a seu jeito...

As nuvens correm tapando a luz azulada
O vento sopra-as e abre um areal no vasto céu
Nasce uma chuva de estrelas em fita dourada
Uma musa de pétalas transporta oiro e fragrâncias no véu
Está uma noite agradável, de ar ameno e fantasia sussurrada
É fantasia que nasce sobre o parque, sobre as rochas e os vultos
É fantasia, efémera fantasia, que cresce e acalma os tumultos
É fantasia suprema e engrandecida que cresce, cresce, cresce!

As estrelas deixam-se cair sobre ela
Brilhantes, ofuscantes como purpurinas festivas
Observo o espectáculo de olhos vibrantes da minha modesta janela
Vejo luz, muita luz em pequenas gotículas que se arrastam como locomotivas
Dando a esta noite magia, riqueza, uma imagem tremendamente bela!

A lua atenta fita-me de olhos sorridentes
Desafia-me a que eu solte um desejo concebível
E eis que solto, de entre todos, o mais apetecível...
Quero paz, paz no mundo!
A lua derrama sobre mim uma luz de ornamentos violeta
Fecho os silenciosos olhos pela intensidade do clarão
E eis que tudo desvanece...
E estou sozinha no parapeito da janela rodeada por uma legião
De pensamentos, de fantasia crescente, capaz de levitar objectos do chão!

É fantasia suprema e engrandecida que cresce, cresce, cresce...
Cresce, cresce, cresce!

É um luar cravejado de outra galáxia distante
É um luar plagiado por um universo inconstante...
Efémera fantasia!
Fantasia? Fantasia...
Qual fantasia? E o meu desejo?
Ora, esse...
Esse fica para outro dia...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Enoja-me este caminho imaginário
Tragam-me a realidade!
Enjoam-me equívocos neste cenário
Tragam-me a verdade!
Já tenho pouca paciência...
Não me ponham num pedestal que eu caio!
Demonstrem um pingo de decência
Não me ponham num pedestal que eu caio!
Eu caio!
Eu caio!
Desequilibro-me entre as tentativas de ser perfeita
Não consigo, não consigo! Não estou firme, eu caio!
Não consigo estar direita!
Não consigo estar direita!
Tirem-me deste pedestal que eu caio!
Não quero ser santa!
Não procuro perfeição!
Não quero perfeição!
Não quero perfeição!
Estendida sobre a fúnebre manta
Vejo a esplêndida dignidade de um regozijão!
E quero acompanhá-lo!
Quero agarrá-lo e fugir-vos!
Ai!
Tirem-me deste pedestal que eu caio!
Porque mantêm essas caras inexpressivas?
Se não me ouvem, escutem-me!
Que acções tão rudes, tão abusivas!
Olhem que eu grito! Escutem-me...
As forças já me estão a fugir
Caminham ligeiras com o raiar do sol
Escutem-me, tenham dó... Estou a ganir!
Tenho o corpo, a alma, tudo mole!
Está tão escuro...
Estou a falar sozinha...
Observo apenas o escuro...
Um muro...
Porra respondam-me!
Concorram contra a minha voz!
Gritem comigo, respondam-me!
Eu não pedi para estar aqui...
Porque é que me obrigaram?
Estou tão longe de mim e até cedi
A todos os aios que me arrastaram...
Tréguas!
Eu não sei estar só...
Falem comigo, tenham dó...
Não pedi para estar aqui...
Tirem-me deste pedestal que eu caio!
São as minhas últimas forças!
Estou a esvair-me em sangue pelas correntes que me prendem
Presas da alma, duma perfeição não alcançada...
Outra vez a perfeição?
Eu não quero ser perfeita!
E não consigo estar direita!
Tirem-me deste pedes...
Adormeci num desmaio
E a toda a velocidade, entre a masmorra, eu caio.
Perante tanto mal, era mesmo necessário o pedestal?

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Auto-ajuda I

Em forma de molécula de hidrogénio e oxigénio multiplicada por partes de milhões, vitalizada em gotejo... Carrega um som de embalar que acalma o espírito e traz paz interior. Sublime metáfora de sentimentos conjugados e jogos de devaneios. É a chuva!
Varre de enxurrada maus agouros, extingue sentimentos passados, põe a descoberto diversificados tesouros, aquece a mente de todos os que a aguardavam e que vivem de meras comunhões inóspitas e extrínsecas. Chegou para trazer calmaria, pousio e dar alimento às pequenas plantas que desabrocham e se vitalizam aos nossos olhos. Tal como qualquer um de nós na nossa condição de ser humano. Em nós habita intermitentemente uma necessidade de procurar pela novidade, de sair da rotina... De descobrir o mundo e as suas maravilhas! Na realidade, necessitamos de nos descobrir a nós próprios e muitos vivem sem sequer pensar nisso, sem saber conviver consigo mesmo, acabando nas ruas da amargura. É certo que viajar nos traz sossego, afasta-nos da fonte dos nossos problemas por vezes, mas até que ponto os resolve? De forma alguma pois eles vão continuar lá, enfadonhos e ainda mais gordos, aguardando a nossa chegada. Devemos aprender a cortá-los pela raiz e não deixar que desenvolvam troncos e excessivas ramificações penetrantes entre as casas, destruidoras de tudo o que se apresenta à sua vista. "Casas"...  Casas que habitam em nós e nos dão impulsos negativos de frustração ou impulsos positivos não obstantes de serem mal traduzidos em realidades das quais nos tentamos afastar.
É um mundo cruel este em que vivemos... Podemos disfarçar-nos do conformismo, da hipocrisia e da falta de respeito mas em nada evita o sofrimento que advirá. Podemos fechar os olhos e cerrar a mente a ideias inovadoras, expressadas de forma aberta que irão trair de forma rasgada as nossas crenças e às quais nos vamos opor relutantemente... Mas até que ponto são as nossas crenças verdadeiras? Até que ponto não nos foram introduzidas por seres superiores a nós que pretendem emancipar a sua hierarquia? Devemos parar... Parar para pensar no que fazemos, no que somos, no que acreditamos. Devemos deixar-nos evoluir com cada tique-taque do relógio, gerar a nossa própria emancipação e tapar os caminhos a quem nos queira derrotar, destruindo os meios que o adversário tem para chegar a nós. Meios que passam pelos nossos defeitos às nossas qualidades. Características que devemos edificar para construir o nosso abrigo e nos defendermos do mundo lá fora,onde a maldade é rainha e a injustiça, princesa candidata ao título de nobre. Não deixemos que elas cheguem a nós, mandemo-las para outros reinos que não o nosso. Não viremos costas ao reino que com tanto esforço e dedicação temos vindo a construir desde tenra idade, desde que olhamos a primeira vez e vocalizamos a nossa chegada a este mundo. O teu mundo é o teu reinado, se não lutares por ele com o teu exército de pensamentos, ideais e acções não consegues batalhar noutros mundos, nem partir em viagens de descoberta que tanto admiras. Não vais saber chegar a outros mundos e explorá-los e vais acabar encurralado na torre do teu próprio reino, escravo de ti próprio. Liberta-te, vive! Não te percas, só tens uma oportunidade!
E esta chuva que cai insistentemente lá fora, abre-me as asas, vocaliza-me, expressa-me, vocifera o desagrado que vive em mim. Podiam chover oceanos, gotejar rios e cair novos desalentos em toneladas que eu não me importava. É água, é pureza, é tudo o que necessito.


Deixo neste post esta criação denominada "La Valse d'Amelie" de Yann Tiersen para o filme "Le Fabuleux Destin de Amelie Poulain", que desde já recomendo. É uma melodia que se assemelha a este tempo chuvoso pois é adequada para reflectir e deixar o pensamento voar, tal como os dedos se balanceiam sobre o piano e deixam os sentimentos fluir em cadeia.



PS- Escrevi este texto porque muita gente tem vindo ao meu encontro em procura de ajuda. Espero que seja útil e que compreendam a sua essência que é inspirada em mim e no meu próprio "reino".

Carmim

Escapou-se o controlo na viagem da nossa amizade
Duma união quebradiça e inconstante
Extinguiram-se poderes, confiança e vontade
Guiamos este capítulo a um destino terminante

A vida continuou...
Novas pessoas, velha rotina
A nossa conjugação cessou
Fechou-se em copas entre a vida citadina
E nós...
Nós éramos raios de sol sorridentes
Objectivos e batalhas em união
Éramos colossais, fortes, surpreendentes!
Nosso brilho era inveja de uma complexa constelação!

O tempo adiantou-se a nós...
Caminhada cônjuge por meia dúzia de anos
Crescendo, aprendemos a ficar sós
Tropeçamos inúmeras vezes nos mesmos enganos
Oh estúpida mente humana!
Decapitante inconsciente de relações
Geradora de cortes e mágoas que imana
Causando múltiplas e excessivas fracções...
Deixamos tudo pelo caminho, até o alento...
Que se recusou a aguardar pelas nossas companhias
As minhas entranhas friccionam-se em fragmento
Circulando nelas o vazio que me trazem estes dias...

Não eras perfeita, bem o sei
Remávamos no mesmo conflito
Imperava o antónimo como rei
A fraude de lidar com espaço restrito
Aaaaaaaaaaaah!
Os erros também foram meus
Confissões cortantes e frustradas eclodiram
Cada um toma conta dos seus
E eu sinto que todos me fugiram!
Para quê me usar?
Enganar?
Ignorar?
Vacilar?
Falar?
Gritar?
Chutar?
Chutei-te eu a ti!
Cresci, porém sozinha, aprendi...
Vivi!
Sofri!
Morri!
E tu nem te dignaste a estar aqui!

E agora...
Já banalizados se deturpam os conceitos
E não acredito na significação de sinceridade
Fico imobilizada e suja neste rol de defeitos
Que és tu!
Que sou eu...
Que somos nós!
Que resultam de força atroz
Do querer da enfermidade imunda de um ser...
Procura por mim
Nas doces trevas coloridas de carmim
E lá encontrarás o esperado fim...

De grisalhos cabelos de idade
Cerro os olhos mortos pelo mundo
Acaricio vagamente meus dedos enrugados de vaidade
Encerro o sonho por um segundo...
Fundo, carrego comigo o sentimento de culpa imundo...
Morta pela saudade...
Saudade, saudosa, sadia
Tenho de partir, até um belo dia...
E chovem oceanos em mim...
Procura, procura por mim
Nas doces trevas cor de carmim
E lá encontrarás o soberbo, o esperado fim!

domingo, 22 de agosto de 2010

E Se Depois!


E se depois
O sangue ainda correr
Corre atrás dele!
E se depois
O fogo te perseguir
Aquece-te nele!
E se depois
O desejo persistir
Consome-te nele!
E se depois
O sangue ainda correr
Corre atrás dele!


Adolfo Luxúria Canibal

sábado, 21 de agosto de 2010

Estabilidade

Vestida de rigor e perfeccionismo
Proliferando teorias controversas
Escritora de cantigas de lirismo
Rainha de todas as conversas
Porém sentindo-se num abismo
De crenças e parelhas adversas

É uma mulher de meia-idade
Conhecedora e de ideais afundados
Sufocava-lhe a efémera saudade
Amarrotada no lenço decorado de bordados
Apesar de possuir perspectivas seguras da realidade
Também ela possui inúmeros pesadelos aguados
É humana!

Grossas lágrimas em despedida salgavam-lhe a face
Habitava um rubor que se desenhava por toda a sua expressão
Carregava pesadamente dor, sofria o trespasse
Que eu adivinhava morador no recôndito de seu coração
Caminhava em passadas largas e abafadas
Transportava um colosso de dor cortante pela partida
Deslocava-se entre um misto de pessoas desinteressadas
A água alcançava-lhe já os lábios de cor encardida
Perdia dos olhos as tonalidades cor de vida
Desnorteava-se procurando a saída!

O tempo passou...
Os segundos voaram
As horas passaram
O mundo mudou...
As aves migraram
E tudo estacou...
Entre chuvadas, sol e trovoadas
A vida continuou...
Entre primaveras, calores e gargalhadas
O amor principiou e remou ao longo de suas jangadas
Ao encontro daquela alma esquecida
Que vivia lentamente a sua vida
Sem animação, sem alguém para a aquecer na noite fria...
Vivia de espasmos, de drogas e agonia
Até que num belo dia...
O amor chegou...
O tempo passou...
Os segundos voaram...
As horas, essas, passaram...
O mundo não mudou...
As aves não migraram...
E tudo desestacou!
E a primavera ali se instalou
E nunca mais voou!
E a alegria aos poucos se desenhou
Naqueles corações dedicados
E ela principiou rumando por planos elaborados
E o tempo passou...
Continuavam aqueles corações apaixonados
Em calmaria e de dedos entrelaçados
A paz chegou...
Até ao fim dos dias que lhes foram destinados
Sempre juntos, sempre enamorados!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sem cor


Sei de vidas que passam
Que nos são contadas numa rota que é sem cor
São vidas pintadas assim, são cheias de cor
São vidas que passam por mim, sem qualquer sabor
E é sem cor, é sem cor que eu finjo que não existo
Sem cor...
É sem cor que eu finjo que não sinto

Há dias e dias, o de amanhã não será colorido.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Quebrada

Sim...
Prometeste que me davas o mundo
Viverias para me agradar
Nunca me avisaste da decadência, do fundo
Das angústias dos verbos trair, magoar e findar!
E agora estou muda!
E surda!
E apática!
E atónita!
E antipática!
E errónea!
E enfática!
Enojada!
Não quero saber de mais nada!
Não fluem mais palavras carinhosas
Nem voam frases doces e calorosas
Não me importa!
Não me interessa!
Foste tu quem estrondou a porta
E nos deixou nesta avessa...
Chorar?
Por ti?
Deixa-me rir!
Prefiro fugir!
Rugir!
Partir!
E parti...
De sentimentos feridos
De cabeça pesada e retumbante
De orgulhos mordidos
Feridos!
Num guerrear constante
Por um paralelo estripante
De múltiplos odores fedidos
Dum mau estar exorbitante
É que só me guio por caminhos mal escolhidos...
Ignorei comentários, virei costas ao barulho
Deixei escapar um grito forte e surdo!
Crucifiquei-me em versos largados sobre a pilha de entulho
Intoxica-te com as minhas cinzas que cegam o teu olhar mudo
Adeus, adeus!   Por agora é tudo.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Nauseabundo

Corcunda
Desmazelada
Moribunda
A fugir pela calada
Das ruas, oriunda
Morta numa cilada
Mais uma vida acabada...
Por nada!

Rezingão
Stressado
Matulão
Esganado
Perseguido pela multidão
De sentidos capado
Arrastado com brusquidão
Pelo furor de uma bala atravessado
Faz favor? É mais um caixão!

Olhos esverdeados
Sentidos apurados
Mágoas dispersas
Brutalidades adversas
E uma vida sem finalidade
Caída na mediocridade
Dum mundo sem saída
Deixou-se explodir, foi-se mais uma vida
O verde do olhar que jorra sangue em ferida...

Esbelta corrida para o metro
Contra as horas, os minutos e os segundos!
Eis que é vítima em tempo incerto
Dum atentado vindo doutros mundos
Doutras cabeças possuídas por cortiça
Onde paira o sabor a dinheiro
A raiva, o egoísmo e a cobiça!
Chiça!

Mais um assassinato, mais um corpo pulverizado
Uma paga por trabalhos de droga mal feitos
Um dia que acabou muito mal acabado
A subordinação da polícia por parte dos suspeitos
Orgulho ferido num homicídio qualificado
Um oficial de justiça caído em preceitos
Por vingança de um irmão não conformado!
Até a justiça padece de defeitos...

Sangue!
Luta no seio de um gang!
E é só sangue!
Que jorra e flui arduamente
Que me enoja
Que enche a rua de um nausear demente
E eu sou levada pela espessa corrente
Tirem-me! Tirem-me daqui...

domingo, 15 de agosto de 2010

Cicatrizes


I tear my heart open, I saw myself shut
My weakness is that I care too much!
And my scars remind me that the past is real
I tear my heart open just to feel!
Drunk and I'm feeling down
And I just wanna be alone
I'm pissed cause you came around
Why don't you just go home?

Utopia

Vamos falar, já a hora está crescida
E vociferantes palavras guardei para te dizer
Não te tentes escapar porque bloqueei a saída
Não sais, não sais, não sais e não te adianta gemer!

Já há muito que procuro tecer
Críticas duras e ofensivas às tuas acções
Só me calarei quando te vir ceder
E assimilares exaustivamente as tuas lições!

Insolência é o teu conceito rei
Tropeças nas tuas próprias forças de atrito
Estou farta de dizer te ouvir dizer 'não sei'
Se continuas destruo-te com o meu grito!

Sabes...
Se o mundo pensasse em mim
Tornava em espectros os meus problemas
Se o mundo fosse tão equilibrado assim
Afastava-nos destes diabólicos esquemas
Se o mundo...
Ah se o mundo me ouvisse!

Mas perdidas estão as rédeas da minha confiança
Em corrida tresloucada, esvoaçando o meu espírito inconstante
A podridão apodera-se de mim numa infinita cobrança
E nosso capítulo encerra-se de forma fulminante
Sem tempo para se empregar uma mudança!

Perturbação!
Furacão!
Turbilhão!
NÃO!

Passada a tempestade...
Mergulhamos na mediocridade...
A nossa luta findada atrofiou-se
Permaneces atónito à minha frente
A minha trágica força quebrou-se
No teu rosto rola uma lágrima efervescente
Que te consome a carne a pouco e pouco
E tu gritas que nem um louco!

Não...
Não quero a tua mão!
Desta vez eu salvo-me sozinha
Sim...
Sim recebo de bom grado o teu coração
E prometo entrelaçar a tua alma na minha!

Frenesim!
Festim!
SIM!

Floresceremos num soberbo jardim
Cresceremos grandiosos no verso de cada dia
Eu tenho-te a ti, tu tens-me a mim
Instalada está a sensação de harmonia
Utopia! É apenas... Utopia...

sábado, 14 de agosto de 2010

Ready To Fall



"We've got one planet, one chance"

A Dança do Vento

Numa trivial dança bamboleante
Vestida de cicios e arremessos
Onde o vento é o maestro numa actuação brilhante
Levitando amores outrora expressos

A vida é simbiose pela sobrevivência
É morte vitalizada em movimento
É a oferta e o desprezo de resistência
Uma corrida pelas escadas do tempo
E lá vai o vento...

Assobia, despindo os casacos do arvoredo
Caminha de pé a pé com a folhagem
Cansado repousa sobre um rochedo
Observando o rumo recôndito duma pequena engrenagem

O horizonte pinta-se de violeta
Tentando apresentar-se magistral
Cai a noite sobre o planeta
É hora do descanso universal...

Já o arco íris despertou, bocejando suas cores
Sonolento, espalha-se pela aurora boreal
É o espelho imaginário de todas as flores
A vida no seu estado eterno e jovial
E lá vai o vento...

Travesso entre as suas brincadeiras inocentes
Magicando encontros acidentais elaborados
Puro e de passos confusos mas coerentes
Leva tudo, deixando os corações arrepiados
E lá vai o vento...

Dançando ao som da natureza
Proporcionando sensações de bem-estar
Arruinando a extrema beleza
De um cabelo acabado de retocar
Seu delinquente!
E ele ri, ri de contentamento e continua a voar
E lá vai o vento...
E ele corre, corre para o firmamento, morada dos seres de encantar
E lá vai o vento...
Foge, foge que eu corro para ti e vou-te apanhar!
E lá se foi o vento
Shhhhh, shhh, shhh!
E eu vou andando, já é hora de ir sonhar...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Deixem-me!


I'm dying again...
I'm going under
Drowning in you
I'm falling forever
I've got to break through
I'M GOING UNDER!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Insónia

Apresentou-se a manhã trazendo uma brisa citadina
Juntam-se carros em fila, sem apreço
Rendo-me a esta sonolência que me domina
Cerro os olhos e quase adormeço

Não consegui pregar olho toda a noite
A inspiração resolveu ser insolente
Necessitada de um açoite
Para desalapar da minha mente
Que raios!

Deixa-me sonhar
Vai incomodar para outros lados
Deixa-me em dormência viajar
E ajuda a magia a chegar aos namorados
Porque eles precisam de se expressar...

De escrever poemas tocantes
De compor canções ao pôr-do-sol
De trazer emoções vibrantes
De fazer serenatas em si-bemol!

Percebeste a grandiosidade da tua missão?
Sentes-te consagrada?
Então vai-te embora inspiração
Deixa-me dormir descansada!

Apocalíptico

Um tom negro pinta o velho caminho
Levantou-se uma decapitante poeira
Trevas, milhentas trevas em pergaminho
Uma tempestade que se adivinha derradeira

O céu encheu-se de trovões relampejantes
Duma penumbra sádica que me consome
As tristes aves abandonam os ninhos ofegantes
E os sentimentos humanos padecem de fome

Mortífera escuridão carregada de peste
Pincelada a carregado por tons de carvão
Desalmados que fogem para Norte e para Oeste
Na esperança insolente duma ressurreição

Sorrisos gastos, acastanhados de tanta usurpação
Presas capturados pela tempestade imunda
Olhares trôpegos e assombrados procurando salvação
Têm uma morte de segunda...

Falham a tentar mudar-me os ideais
A moldar-me à vossa imagem
Não darei a minha mão a marginais
E meu corpo recusa-se a participar de tal viragem

Ide possuir uma outra mente!
A minha está em meu comando, salvaguardada
A vossa contaminou-se pelo veneno da serpente
Que enganou Eva tão bem enganada

Ide, ide, idem...

Sigam a estropiar carnes dum corpo esquelético e pobre
Carreguem o peso desse fardo negro e pestilento
Equivocados estais ao julgar que tal é comportamento de nobre
Castigos e maldições arruinar-vos-ão vosso último momento!
Não!
Não partirão junto de gentes afamadas
E vossos ossos cairão num mar deserto
Digeridos serão por aves esfomeadas
Vossas almas seguirão sem rumo incerto
E sem saída...
É a vida!

Príncipe Desengonçado

Oh és tão esguio, és tão belo!
Reflectes o azul do céu no olhar
Teu cabelo de nuances tonificadas de amarelo
Arrebata corações, leva as mulheres a deixar-se engravidar
E quem disse que eu queria saber?
Ter?
Fazer?
Dizer?
Não posso crer!
Levaste tudo e partiste...
Entrelaçaste...
Magoaste...
Magoar-me?
Desiste...
Não é tarefa para ti!
Oh voltaste...
Vai, sume daqui!
Já não és bem-vindo!
Estás faminto do pecado imaculado da carne
Desejoso de um hidrogénio a dobrar e oxigénio,
forma líquida...
Água inodora!
Insípida como as manhãs em que despertas...
Não olhes para mim!
Não assim...
Porque despertas o meu ódio e tornas-me suja!
Piedade, imploras...
Já olhaste as horas?
Elas fogem, vencem a corrida pelo tempo...
Não grites!
Envinagro-te os lábios sedentos...
Suculentos...
Doentios!
Não peças perdão porque não sentes arrependimento...
Chegar a um entendimento? Desiste!
Não é tarefa para mim!
Porquê?
Que tenho eu a ver com isso?
Tu é que partiste...
Fugiste...
Queres-me como tua?
Desiste!
Já te disse!
Que caia um decapitador sobre ti.

domingo, 8 de agosto de 2010

Hostilidade

Atmosfera quente e pesada
Vestida com tonalidades de cinza e cor de morte
Uma corrente de ar sangrenta e abafada
Mais um vagabundo de costas voltadas para a sorte

São tiroteios daqui para ali
Expressos em locuções pobres e ignorantes
Um cheiro tresandante que nasce dali
Adivinhando-se um perjúrio de mãos mortificantes

A cada esquina um vigarista
Um velho sábio sem movimento
A cada segundo a imortalização de um artista
O instalar de um inóspito estado de lamento
Fraudulento, fraudulento!

A vida torna-se repetitiva e cruel
É viagem de ciclos sem medida
É um poço ornamentado de fel
Um atalho sem volta nem saída

Inocentes dão o corpo e terminam a viagem
Poderosos comandam sem fraternidade
Desprovidos de sentimentos, munidos de coragem
Aprisionam a Terra e tiram-nos a liberdade

Que é feito então dessa bela realidade
Que enche os lábios de muitos idealistas?
Que é feito dos valores da amizade
Onde estão as vitórias e as conquistas?

E é que eu só vejo dor a pairar...
Cadáveres que se amontoam
Ouço pesadamente o último suspirar
Dum lutador que todos amaldiçoam
Só porque possui percepção real dos acontecimentos
Calaram-no, tornaram-no intoxicado
Feriram-lhe a alma, deturparam-lhe os sentimentos
Cravaram garras no seu coração apaixonado
Jumentos!

Língua cantada em verso não é suficiente
Quando as acções são nulas ou desprovidas de significado
O mundo é apenas um lugar deficiente
Formado por pessoas de mau agrado
Predomina o louvor de escárnio e de loucura
As traições de má fé e maldizeres
Cenas repetidas de insuportável tortura
Submissão aos ricos e seus quereres

Lembrança! Matança! Cobrança!
E já louca me estou a tornar!
Forças em vão, desprovidas de aliança
Mais uma magistral alma vão arrancar!
E sabem? Nada muda, nada se alcança
De nada me adianta divagar...

O mundo está totalmente perdido!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Selinhos II



Selo oferecido pela Ana que foi muito querida :)

1. És uma pessoa sorridente e por vezes sorries sem motivo?
Sim e maioritariamente sorrio sem motivos aparentes, só porque sim.
2. O que é preciso fazer para te colocar um sorriso na cara?
Nada de especial, basta que sejam autênticos e acabarei por vos sorrir.
3. Tens alguém especial que te faça sorrir com um simples olhar?
Tenho muuuuiiita gente que o consegue.
4. Oferecer o selo a 3 pessoas (ou mais como é óbvio)
Ofereço este selo:
e a quem o quiser :)

5. Comentar o blog da criadora






Regras:
1.Postar o selo e dizer quem o ofereceu.
A Beatriz :)

2.Responder à(s) pergunta(s):
 Por onde gostarias de viajar? E com quem?
Por todo o mundo! Poderia ser com amigos ou família.

3.Oferecer o selo a três blogues, ou mais
Ofereço o selo a todos os seguidores :)

Arte Viva

Montanhas escaladas ao expoente
Pôr-do-sol sobre a tela desbotada
Uma face bela e incongruente
Um pincel em ânsia resguardada
A aguarela num chamamento iminente
Quer pintar uma obra elaborada
Pula sobre a mão de contente
Brilha com ares de realizada

O pintor conjugado naquela magia
Vitaliza os seus apetrechos
De mãos ao trabalho promete fantasia
Até alcançar os seus desfechos!

E eis que vem o lápis cor de escarlate
Tracejar a carregado nas roliças maçãs do rosto
Um corar intenso de remate
De melancólicos pecados cor de mosto

- Que insolente! Não eras para aqui chamado!

Ofendido este responde:
- Sei dar vida a equinócios de palavreado
Colocar elegância nas composições
Imito a poesia no chilrear de um cágado enamorado
Rujo e grito como os ferozes leões!

Todos o olham com desdenho
Descontentes da sua exibição
E eis que entre rangeres de dentes
Começam a sua confissão:
Diz a tela que sem ela
Nada fariam, ah pois não!
É nela que vai residir toda a obra bela
O trabalho de uma comunhão!

O pincel apressa-se e declara
Diz que sem ele nada feito
Desde periquito a arara
Tudo se manuseia a seu jeito!

Vem a aguarela em sua defesa
Argumentar que é ela quem possui a cor
É ela quem dá beleza
A sentimentos como o amor!

O papel sente-se renegado
Corre para o centro da discussão
Conta que é nele a carregado
Que é a expressa a emoção!

- Que confusão!
Diz o pintor em negação
Tentando arduamente explicar
Que todos dão a sua contribuição
Para a arte se edificar!

A aguarela, a tela, o pincel
Juntam-se para um quadro elaborar
Lápis, canetas e papel
Pensam em poemas para escrevinhar

Vem a filha do pintor
Com docinhos no regaço
Acorda o seu progenitor
Com a riqueza de um abraço
E este agarra um doce e começa a contar
O tremendo sonho engraçado
Onde os seus apetrechos estavam a falar
Ela sorri e aponta o atrelado
Uma pintura e um poema, um com o outro a teimar
E eis que dum canto os seus apetrechos gritam em tom educado:
- Tu não estavas a sonhar!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Primavera

Toque suave da brisa primaveril
Fragmentos de minerais de azul-ciano
Passarinhos em seus ninhos mil
Cantarolando a proeza de um desengano

As árvores outrora despidas
Ganham vasta e apelativa folhagem
As rochas do passeio encardidas
Perante leves gotículas de água alteram a sua imagem

As flores desabrocham e sorriem
O sol acolhe-as e abraça a sua beleza
As sonhadoras crianças correm e riem
No contentamento de sua pureza

A natureza floresce
Entre colmeias e ramagem
O amor acontece
Num olhar digno de miragem

De traças loiras ao vento
Baloiçando-se em plena paz
Sonha acordada com o firmamento
De borboletas pela presença do seu rapaz

E eis que ele chega...
Vem calmo e de face serena
Traz calças arregaçadas até ao joelho
Corre sobre uma aragem suave e amena
Que lhe recorda tempos de fedelho
E é então que vê Madalena
Com seus cabelos loiros a doirar
De olhos fechados num baloiço a baloiçar
Aproxima-se da pequena
Canta-lhe e solta versos pelo ar!

Tenta conquistar seu coração
Há já meses após as suas lides na quinta
Tenta chamar a sua atenção
Agarrando-a levemente pela cinta
E ela voa nos seus braços
Deseja-o até ao luar
Sente as borboletinhas no estômago e seus primeiros passos
Um corrupio de felicidade pelo ar

Ela pertence-lhe, sabe-o bem
Ele sabe que a irá conquistar
Eles conhecem-se como ninguém
Estão perante um primeiro amor que se começa a libertar...
Madalena e Francisco, uma história de encantar!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Selinho


Regras:

1-Postar o autocolante e dizer quem ofereceu: A minha Cinda :)

2-Enumerar 3 coisas que reparam de imediato no sexo oposto e outras 3 que não suporta: Olhos, cabelo e personalidade. Falsidade, hipocrisia e egoísmo.

3- Passar o autocolante a outros 4 blogues (só):
Marilena http://pensarateasestrelas.blogspot.com/
Daniela http://verdadeserealidadesdomeuser.blogspot.com/
Beu http://luckly-romance.blogspot.com/
Diogoc. http://rachiuaua-and-spinaches.blogspot.com/


4-Comentar o blog da criadora do autocolante

Eterna Devoção

Guerra de opiniões paralelas
Sem nexo nem o menor cabimento
Aparecimento de uma silhueta exímia e bela
Que emudece o melhor argumento

Sublime forma corporal, cabeleira comprida
Brilho trovejante no olhar
Lábios resplandecentes de vida
Leveza ardente no seu caminhar
Todos a querem acompanhar
Todos se pelam para lhe oferecer uma bebida
Recusa, nega e diz estar ocupada
Caminha atraindo todas as atenções
Segue bamboleante e despreocupada
De quadris nus respirando mortíferas seduções

Todos a desejam mas naquele crepúsculo
Irá ao encontro de sua velha paixão
Engrandecerá o seu coração minúsculo
Acto não permitido pela sua profissão

Caminhando pelas ruas outrora sombrias
Foca lá ao longe o seu homem de negro sobretudo
Vê esvoaçarem todas as suas agonias
A crescer em si uma folia de entrudo!
Corre, corre, corre!
Voa para os seus braços
Está pronta para se entregar
Está livre de embaraços
Presa num sonho do qual não quer acordar

O homem ajoelha-se, sente vasto calor no seu regaço
Abre o recôndito bolso de sua pesada vestimenta
De lágrimas tristes e pesadas pelo cansaço
Pede-lhe que vivam o amor que os alimenta
Ela ajoelha-se, dá-lhe um reconfortante abraço
E promete acabar com toda a sua tormenta
Então...
Desistiu do emprego, mudou de profissão
Passaram-se largos anos e continuou a sua veneração
Por aquele que toma como o seu salvador
Que a tirou das ruas frias incultas do perdão
Este padece de insuportáveis mazelas num leito de dor
Caminha para o leito confortável de um caixão

O seu amor vai embora
E ela sozinha vai ficar
Decide então que é hora
De com a sua vida terminar
Crava no coração um punhal
E adormece junto dele, sem desejos de acordar (...)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Privação

Errei!
Tinha todos os recursos disponíveis
Mas falhei...
Tinha apoios e ajudas acessíveis
Mas nem tentei...

Perder é angustiante
Todos felizes e eu a morrer por dentro
Viver é degradante
Quando estás perdido no centro
É agoniante!

Perdi, sou uma falhada
Vergonha de quem confiou em mim
Derrubaram-me, fui derrotada
Estou perto do meu fim...
Estou tão magoada!

Não entendo as minhas aspirações
E choro rios e mares completos
Vivo apenas de frustrações
E carência de afectos
Vivo demasiado de lamentações
E alimento-me de espectros
De fugazes ostentações...

O rumo perdeu-se e estou sozinha
O coração aperta-se a cada insulto
Lamentavelmente a escolha foi minha
A escolha de pôr de parte o culto
E agora?
E agora?
Vejo sonhos caídos no chão
Esperanças gastas e sem retorno
Tudo fruto da minha opção
De fazer de ti meu dono

E agora?
E agora?
Vejo desgosto e ressentimento
Verdades rispidamente a proliferar
Mata-me o desdenho e o arrependimento
Vê no que me fizeste tornar!
Estás orgulhoso, estás contente?
Concretizaste o objectivo de me derrubar!
Estragaste-me a vida, estragaste o meu presente
Um futuro para o qual eu lutava sem cessar!
Foste tu! Foste tu quem me deixou no fundo
Foste tu quem extinguiu a minha segurança
Foste tu que abalaste o meu mundo
Foste tu quem me fagocitou a esperança!
Foste tu!

Mas não desistam de mim já, por favor, não!
Ainda tenho muito aticismo para dar
Não me coloquem nesta privação
Não me queiram com a vida matar...

Prolepse

Um suave beijo numa face rosada
Repleto de aconchego e de ternura
Um suave apertar de mãos pela noitada
Acompanhado de olhares esbanjadores de doçura
Já raiam os primeiros bocejos da madrugada
Já partiu a ave migratória pelo céu azul que pinta a moldura

Belo cenário, afrodisíaco e quente
Um sentimento espalhado pela areia
Dois jovens apaixonados, uma brisa benevolente
Um trago de paixão que os rodeia
Um amor que acaba de plantar sua semente!

Despertos, felizes, de cônjuge mão
Sentem o mar que lhes acerca os pés
Lábios fervorosos, corpos que flutuam sem largar o chão
Numa magia que desgarra todas as marés!

Voam as últimas poeiras
Daquela que foi a noite das suas vidas
Erguem-se lá no mastro rodopiantes bandeiras
Que o vento consome por essas avenidas

O jovem casal mergulha em ondas de felicidade
Soltam gritos discretos porém audíveis
Brincam, fazem patetices características da sua idade
Velhos pescadores observam, de feições desprezíveis
Comentando entre si em tons de maldade
Que amores daqueles são compreensíveis
Porém passam rápido e só deixam saudade

E ao longe ouve-se a alegria personificada
Inocente da profecia de tais palavras sectantes
Partilham-se promessas, juras que serão quebradas
Num palreio de segmentos frustrantes

Não! Não façam planos a longo prazo!
Não queiram já viver tudo!
Aproveitem o presente e dêem azo
A um sentimento forte e chorudo!
Porque a escada não se sobe de três em três
E os sentimentos não têm prazo de validade
Não aproveitem tudo de uma vez!
Não mostrem aos pescadores que eles eram donos da verdade!

domingo, 1 de agosto de 2010

A de Amor

Sufoco frágil e ditador
Término de esforços vocalizados
Lábios cheios de um clamor
Implícita metáfora de sentimentos deturpados

Seria simples descrever rotas
Entre amar, abraçar e confiar
Seria simples definir frotas
Entre sentir, viver e racionalizar
Entrelaçamos impressões, conjugamos derrotas
Perdemos magia ao deixar a razão trabalhar

Seria simples comungar de amores puros
Cerrar os lábios a palavras adversas
Permitir a junção de lábios maduros
De mentalidades abertas e dispersas
Seria simples não imaginar futuros
Quando no presente andamos às avessas!

Não compliquemos o amor
Vamos apenas senti-lo, de coração aberto
Não procuremos lágrimas e ardor
Na tentativa de um acontecimento incerto
Calemos o cálculo de vigor
Mantenhamos este calor na alma desperto!

O amor não foi criado em antagonia
Escondendo engenhos e armadilhas
O amor foi criado para trazer harmonia
A esta vida cheia de maravilhas
Baseia-se em dar-se a cada dia
Em múltiplas, clementes e isentas partilhas

Abracemos a ligação que nos leva a outro ser
Conjuguemo-la com a nossa vida
Deixemos que ela nos encha de vontade de viver
Não transformemos o amor numa realidade homicida!
E eu vou por aí na tentativa de me preencher
De malas feitas, coração leve, estou de saída
Vou procurar um amor, um refúgio, uma forma de renascer
O sustento de uma alma vagarosamente perdida!