domingo, 27 de julho de 2014

ninguém se lembra mais de mim

Abre-se a lua em quartos de laranja abençoando o céu de cores citrinas.
Ergue-se viva a noite de Verão
Em explosões outrora harmoniosas.
Galanteios e promessas vazias: globalização.

Escrevo.
(com dor no coração, dor no coração...)

Aos pés, o diário sujo de lembranças
Serpenteando entre h2o em estado líquido.
No ventre, as teatralizações infiéis:
Os sorrisos manchados pelo decurso dos destinos, o vento norte, o caminhar de primata: tão trôpego, tão primário, tão primeiro. Tão sujo.

Desamor.
O prefixo junta-se a sufixos dilacerantes
E os punhais cravam-se na íris
Em efervescências sanguíneas em descontrolo.
A visão desvia-se,
A água passa.
névoa... névoa... neva.
Neva no meu coração.

Escrevo
E escrever é perder vida,
É criar vida da morte em vida.
É dar com uma mão e esganar-se com a outra.
É esbanjar sentimentos colhidos pelo vento e rodopiar sobre as águas paradas.
É seguir a corrente e emaranhar o futuro nas entranhas de um sopro de nuvem.
É negar o ser e assumir a derrota
Que envenena e rasga o peito em três mil pedaços irregulares e cortantes.

Escrever é espelhar sentimentos
E mascará-los de virtudes didáticas.(risos histéricos!)

Escrever dói.
Anula.
É um infinito de um infinito só.
Sombras de anseios ensaiados.
Fantasmas solitários.
Eu.

Escrever é amar.
É rir com as letras e dançar com as palavras.
Escrever é deixar-se.
É ser louco.
É ver o mundo a dar voltas
E vomitar de confusão.
É a queda e a exaustão:
Pelo mesmo de sempre,
Pelo mesmo de nunca.
Psicose, ardor, merda,
paixão!

(pum pum pum!)
A vida pernoita lá fora...
E ninguém se lembra mais de mim.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Efemer(idade)

Um sussurro de poesia numa pauta de latim
 No canto mais negro da sala.
A controvérsia dos gritos de revolta
E o amor no doce deslizar de carícias.
Negro. Branco.
Branco. Negro. tão negro,
que o branco asfixia e metamorfiza-se em violeta.

Vicissitudes do ser,
Esmagantes, sufocantes, vibrantes, com prazo de validade.
Eufemismos que escondem os pequenos rios que se formam no olhar,
Eufemismos que calam a voz de quem canta
um triste fado de abandono e desespero em surdina.
Eufemismos vestidos de seda e de prata,
Abraçados a egos vacilantes e a discursos trôpegos.
Eufemismos em desfile, absorvidos por máscaras:

Quebram-se os votos e as promessas
E a ditadura do coração impera numa inverossímil tempestade de libertação.

Quebram-se os dentes.
Rasgam-se os lábios.
Dilacera-se o amor e o coração que o sustenta.
E o fado permanece suspenso dos fios dos destinos das deusas do tempo.
D-d-d-d-d-desespero em ruge-ruge de borboleta.

A melodia morreu
Mas o violino abraça-se à doce envergadura da criança
 que ri e chora a emoção de cada nota libertina.
A sinfonia dança uma valsa com Cronos
E amam-se nos paradoxos das sonhadas utopias.
Efémero.
Tudo é.
 Tudo foi.
   Tudo será.