sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

divagar (se vai ao longe)

É noite de dilúvio:
Pintam-se negras estrelas de dor
Tocam-se os ventos e as árvores 
Numa tempestuosa melodia de amor.

Encavalita-se o laranja no céu entristecido
No ar, um odor brejeiro a terra fresca
Arre vida que não presta!
Oh, quanto desconsolo emergido!
Eis de malota nas costas e sobretudo até o pé
O viajante amaldiçoando
O guarda-chuva pernoitando no café.
Arre! 

Corre, corre tão forte
A água viva pela calçada...
Shh, não diga nada... Sinta só...
A dança do vento
As cores da paleta de imaginação
Que enchem o céu de paraíso
E de vitórias o coração.

Sinta só...
O aconchego da lareira em família
As flores colhidas pela fada do lar
O odor a lavanda pura
Que preenche a calmaria do ar.

Sinta
os diários em papel de feltro
as letras gastas de caneta 
que escrevinham histórias
lá do mundo dos sonhos
arrumado numa gaveta.

Choram as nuvens
As saudades de outros tempos.

Que chova.
Que as nuvens soltem a sua mágoa
Para poderem transformar-se em sol brilhante.
Façamos o mesmo, meu caro viajante.
Deixe, deixe chover.
Com a enxurrada irão os monstros
As bandeiras rasgadas
O coração fragmentado pela canção de despedida.
Que chova.
É hora de descanso.
Shhh... não diga nada não.
Guarde as palavras no bolso
E a paz no quentinho do coração.