quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Letras soltas

Virei as páginas de um livro vazio
Impingi-lhe o acto de sobreviver
Eternizei nele este constante rodopio
Que é a imensidão do meu rodopiante ser
O livro entregou-se às palavras
Por elas deixou-se percorrer
As letras alinharam-se como escravas
Com a caneta, comungaram a arte do meu escrever
Então escrevinhei
Subi ao expoente da loucura
Todas as mágoas desabafei
E mostrei que grandes males nem sempre o amor cura
E a razão procura-me, insistentemente
Tenta trazer-me à realidade
Eu vou evitando-a constantemente
Procurando abraçar-me à saudade
Dá-se uma reviravolta
Algo básico que me permitiu alegrar
Jogo pelo ar a tristeza solta
E imploro-lhe para não mais voltar
Teimosa, ela desobedece
Impõe-se e torna a reinar
E logo a pequena alegria conquistada desvanece
Dando origem a um errante livro... por escrevinhar...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Nostalgicações

Nuvens pintam a paisagem
O verde dos campos cessa apagado
Vejo o passado na outra margem
Ignoro e sigo o caminho enublado
Já gastei muito tempo
Quero seguir a viagem
Já perdi muitos momentos
Esquecendo-me que estou de passagem
Mas ninguém me dá a mão
E eu vou caminhando só
As pedras mudas gritam a minha solidão
Os lobos uivam ao longe, têm dó.
Mas eu sigo, alerta
Vencendo os perigos do caminho
A minha mente está deveras desperta
E o corpo cansado, lá vai sozinho
Estou quase, quase a chegar
Mas derepente caio na artimanha do presente
Levanto-me confiante e acabo de sonhar
Acordo e volto ao dia-a-dia deprimente
E eu estava quase lá (...)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Ruínas

Mais um dia
Mais uma ilusão
Mais uma tristeza garantida
Mais e mais solidão!
Rodeada por muros
Porém invisíveis
Grito, solto sussurros
Cometo erros inadmissíveis!
A mão escreve a dor
O pensamento massacra a mente
A nostalgia acaba por se impôr
De modo a que tudo à volta fragmente!
Sonhos perdidos
Promessas quebradas
Desejos ardidos
Histórias apagadas
Prosas inacabadas
Cicatrizes bem marcadas!
Vidas falhadas...
Falhei e desesperei
Sei que não sou de aço
Erro e errarei
Não sou perfeita, não sei que faço!
E de mim se afastam
Facilmente, sem pesar
E sobre mim arrastam
A agonia de tão só estar...
Pensar que tudo irá mudar?
Não vai, nunca muda
Talvez melhores dias irão chegar
Talvez melhores momentos irei proporcionar
Mas arruinarei tudo no menor tempo
Do que aquele que me levou a preparar
Porque eu não passo de ruínas...
Ruínas de uma história acabada
Porém aberta, incompreendida
Ruínas de alma magoada
Sem objectivo, sem caminho, sem estrada...
Ruínas perdidas no longuíquo destino
Meros fragmentos de vida passada.
Eu parei e não quis voltar
Parei e não soube mais como me achar
Nesta derrota mal ultrapassada...
E aqui vou e sigo
Tão perdida, tão desnorteada!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Traços de monotonia

Pessoas na rua enganadas
Frases feitas
Palavras cruzadas
Falhados desafios
Somam histórias acabadas
A vida segue lá fora
Eu continuo aqui presa
O tempo a mágoa desforra
E esta alma perde-se por jogar à defesa...
Fugir porque sim
Não justificar porque não
Ninguém tem de perceber
Todos têm de esquecer
O quanto custa a solidão...
O coração? O meu coração...
Tão pobre de anatomia
Tão forte em sentimento
Tão forte em agonia
Tão pobre em achar alento
Paupérrimo em saber fugir ao sofrimento.
Pobre? Forte?
Falta de inspiração...
Escrever alivia
Mas não me apetece
Estou farta desta monotonia
Deste aquece e arrefece
Bolas, já chega
Vou embora
Vou esquecer o mundo
Ainda não é a minha hora...
Não faz mal, vou embora
Vou embora!