sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Arte Viva

Montanhas escaladas ao expoente
Pôr-do-sol sobre a tela desbotada
Uma face bela e incongruente
Um pincel em ânsia resguardada
A aguarela num chamamento iminente
Quer pintar uma obra elaborada
Pula sobre a mão de contente
Brilha com ares de realizada

O pintor conjugado naquela magia
Vitaliza os seus apetrechos
De mãos ao trabalho promete fantasia
Até alcançar os seus desfechos!

E eis que vem o lápis cor de escarlate
Tracejar a carregado nas roliças maçãs do rosto
Um corar intenso de remate
De melancólicos pecados cor de mosto

- Que insolente! Não eras para aqui chamado!

Ofendido este responde:
- Sei dar vida a equinócios de palavreado
Colocar elegância nas composições
Imito a poesia no chilrear de um cágado enamorado
Rujo e grito como os ferozes leões!

Todos o olham com desdenho
Descontentes da sua exibição
E eis que entre rangeres de dentes
Começam a sua confissão:
Diz a tela que sem ela
Nada fariam, ah pois não!
É nela que vai residir toda a obra bela
O trabalho de uma comunhão!

O pincel apressa-se e declara
Diz que sem ele nada feito
Desde periquito a arara
Tudo se manuseia a seu jeito!

Vem a aguarela em sua defesa
Argumentar que é ela quem possui a cor
É ela quem dá beleza
A sentimentos como o amor!

O papel sente-se renegado
Corre para o centro da discussão
Conta que é nele a carregado
Que é a expressa a emoção!

- Que confusão!
Diz o pintor em negação
Tentando arduamente explicar
Que todos dão a sua contribuição
Para a arte se edificar!

A aguarela, a tela, o pincel
Juntam-se para um quadro elaborar
Lápis, canetas e papel
Pensam em poemas para escrevinhar

Vem a filha do pintor
Com docinhos no regaço
Acorda o seu progenitor
Com a riqueza de um abraço
E este agarra um doce e começa a contar
O tremendo sonho engraçado
Onde os seus apetrechos estavam a falar
Ela sorri e aponta o atrelado
Uma pintura e um poema, um com o outro a teimar
E eis que dum canto os seus apetrechos gritam em tom educado:
- Tu não estavas a sonhar!

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