quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Bateria Fraca

Quando perco o rumo, sinto que a prosa me olha ameaçadora e me empurra ao encontro de um abismo interminável, recheado de letras e frases decompostas que fogem a uma possível reconstrução de ordens e sucessões magicadas pelo meu cérebro.
Quando perco o rumo, sinto que o chão é apenas ilustrativo porque o fosso onde caminho é colossal e recheado de pedras flutuantes, raiado pelo céu tão negro que quase nem enaltece a beleza do Outono cá de baixo.
Quando perco o rumo, rodopio entre presente e passado e deixo bem abertas, prontas a salgar, as feridas cozidas à pressa por inconvenientes mudanças pelas quais tive de discernir. Deixo-as, de tal forma abertas, que quase é possível ver as entranhas e cada pedaço reles e satânico que me possui. A bateria fraca da bomba que me move, tira-me do chão, faz-me levitar... aos poucos... levemente... Até que volto ao labirinto de dissabores, o labirinto circular, cujas paredes nuas e com défices precários contam, palreando entre si, a história da minha vida. 
Quando perco o rumo, perco as cores, os sabores, a noção das horas, a vida que corre nas veias finas e doentias que arrastam o teu nome... Perco o dia, a noite, as estações, os meses e os anos, as maleitas doentias e as cartas do destino que se confundem mutuamente. Tudo num corrupio tão confuso que, com tal azáfama, a respiração nem tem vagar para se soltar dos lábios roxos nem a visão consegue exercer funções e cumprimentar as pupilas dos teus olhos castanho-mel.
Quando perco o rumo, perco-me. Perco-me do que sou e do que fui e vejo um monstro cheio de jeitos ridículos a mexer-se do outro lado do espelho. Perco-me das pessoas e afasto cada uma das suas insistências, ainda que carregadas de boas intenções.
Quando perco o rumo, perco-vos e quero-vos tão longe quanto a Lua está da Terra, tão longe quanto o Sol está de mim, tão longe quanto a poeira espacial está da terráquea. Longe o suficiente para que não vos ouça, nem sinta, nem veja!
Quando perco o rumo, perco-nos. Ah mentira! Até sem cores nem sabores nem horas nem vida a patinar pelas veias nem dias nem noites nem estações nem meses nem anos nem formas nem confins e afins de pensamentos alheios revelados, eu nos perco! E talvez seja essa a maldição que carrego, que me crucifica e me esfola os sentidos provocando dores em órgãos que desconheço existir.
No entanto... Entretanto nunca amei, é apenas juvenil obsessão. Não tenho forças ou leis para amar, nem muito menos coração!
Pi-pi-pi-pi-e-infindáveis-pi's dão o alerta de bateria fraca!
Estou quase quase a sucumbir, a desligar... (Carregador e tomada? Hã?!)

3 comentários:

  1. Olá!
    Nunca mais escrevi nada no meu blog mas vou voltar.
    Espero que continues a passar por lá,,,desculpa este tempo todo sem escrever nada.
    Fica bem! :)

    Este texto está fantástico continua :)

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