quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Rasgados

Parei
Naquela paragem tão breve
Onde o vento me acolheu
E abalou a dança das espigas sonolentas
E, florescendo num ápice a neve,
A carnuda rosa se ergueu
Leve, levemente...

Parei
Num tempo tão sinónimo
Que o relógio desvitalizou-se
E protestou do fundo dos seus pulmões.
Os ponteiros pecaminosos desviaram-se do rumo
Por um homónimo,
Fruto de mais variadas oscilações
E num dilúvio tão doce
Hora é de procurar comunhões.
E a precisão, que é dela?

Parei
Numa folha tão cheia
Quanto vazia é a vida
Daqueles que não amam...

Parei
Pelos campos verdejantes
Alcatifados de mantos dourados
Onde pairam eternamente recordações
Intocáveis e discretas
De tão felizes tempos passados.

Parei
Invejei cada gota de orvalho
Pela exactidão do seu cortejo
Invejei cada memória
Onde permanecia o sabor do teu beijo
Que se rasgou também, no tempo.

E não sei dizer sim à vida...

Parei
E desde lá...
Nunca, nunca, nunca mais me encontrei...

2 comentários:

  1. Ora essa =) apenas rabiscos incoerentes
    mas obrigado, tu também escreves muito bem...

    "Parei
    Numa folha tão cheia
    Quanto vazia é a vida
    Daqueles que não amam..."

    ...e como poucas palavras dizem tanto...

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