terça-feira, 12 de outubro de 2010

Outubro



Sobre a sombra de um carvalho
Passeiam-se os memoriais da nossa história
Caem as últimas gotas de orvalho
Apagando a tinta indelével da minha memória.
Outubro.
E as avózinhas aquecem-se na lareira
Enquanto de suas mãos nasce um belo agasalho  
Lã solta, espalhada pelo baloiçar de madeira
Entra em azáfama o neto, range o soalho.
Começa-se já a desenhar a neve 
No cimo da colina destinada ao pastoreio
No velho fogão o chocolate quente já ferve
E histórias aconchegantes pacificam o meio.
É Outono, as folhas estão soltas pelo chão
A árvore desnudada deixa que o vento a balance, ligeira
As aves fazem os últimos preparativos para sua migração
E no caminho para casa, aqueço as mãos na algibeira.
O pôr-do-sol é maravilhoso
Parece sorrir à minha passagem
O telhado do anexo de arrumos abana-se, duvidoso
As chapas tocam-se ao de leve como no funcionar de uma engrenagem.
Neva, neva, neva.
A minha casa ainda é um pequeno ponto no horizonte
Junto do carvalho de copa frondosa no verão
Transformou-se em gelo a água da robusta fonte
Olha lá! Não parece o teu coração?
Afasta-te lá pensamento
que ele já não tem lugar aqui.
Abandonou-me, partiu com o vento
Que sopra nas minhas costas, acolá e acoli.
E neva, neva, neva.
Outubro.
Meu Outubro.
O rumo? Esse já o perdi há muito.
E neva, neva, neva. É Outubro.

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