sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Febre de Sentir

Perco-me no ilustre pensamento
Fujo à banal realidade
Perco o alento
Estou farta de esconder-me da verdade
Olhem para este cidade!
Quanta desgraça, quanta hipocrisia
Fugir, contornar e quebrar a lei constituiu-se prato do dia!
Todos querem superar-se, alcançar um elevado estatuto
A vida não é para quem quer, é para quem quer e é astuto!

Queres algo... Então...
Passar por cima de tudo e todos?
- Sim, claro! É uma via!
Matam-se, esfolam-se, perseguem-se como tordos
Passando em muito o limiar da agonia.
Olha que pobres de alma...
Tristes, sós, desamparados
Em vós deixou de reinar a calma
É bem feita, é a paga por serdes mal intencionados!

O mundo está perdido
Mas mais perdidos estamos nós
Sempre descontentes, estúpidos
Achando-nos tão depressivos e sós...
Estamos crentes de que vamos melhorar
Mas tal mentira não tem por onde se lhe pegar!

Oh! Olhem à vossa volta
Eis o que hão-de encontrar:
Crianças orfãs, jovens mortos de espírito, adultos traumatizados
Traumatizados com o que vêem, com aquilo com que têm de se deparar
Desmembramento humano, agonia, escravização, fome, tristeza, desespero a pairar no ar
Todos sem terem como fugir, sem poderem sequer se alimentar
Sem projectos para o futuro, tendo apenas um objectivo
O objectivo de morrer amanhã sem mais tardar.
Raios! Suas dores tornam-se insuportáveis de aguentar
A monstruosa guerra parece nunca mais findar
Tudo se perde, nada se alcança
A esperança? Essa está-se a apagar.

E vens tu, ingrato dizer-me que a tua vida não vale a pena?
Tu que vives de luxos, riqueza e que nada te falta?
Festejas o ano novo de taça na mão
Sorries, cantas e danças, vives sem privação
Nem sabes sequer o que é a solidão!

Triste sim é aquele sem-abrigo
A quem só estendem a mão pelo Natal
E só o fazem porque não ajudar em época festiva parece deveras mal
(É por isto que todos os dias devia ser Natal!)
Pobre homem que toda a vida lutou e agora está perdido
Ali desamparado, nas ruas esquecido
Orfão de sonhos, de amor, de paixão
Por esses monstros da terra foi vencido
E agora caminha lentamente para as garras de um caixão
E quem passa julga-o, insulta-o
Não mostra um pingo de compaixão
E o pobre homem morre sem sentir o apoio da nação.
(Ele sim é desgraçado pela vida)

Por esse mundo fora
As pessoas projectam sonhos e procuram pela sua realização
Eu fico aqui a observar
E acabo por mergulhar numa tremenda desilusão.
(Nada muda!)
Queixam-se que falta dinheiro, queixam-se pela falta de imaginação
Queixam-se que o amor acabou, queixam-se que não encontram solução...
Abram esses olhos!
Estou farta de alertar, vocês são sortudos mesmo com desgostos
Porque têm sempre um novo dia para despertar
Vivem de passatempos, joguinhos e encostos
Dispõem de tempo para sarar
Não têm doença, estão fora da guerra
Têm alimento, habitam pacificamente a terra!
- Portanto parem de reclamar!


Chega de lamentações, chega de vos ouvir
A paciência esgotou-se, é perda de tempo vos advertir
Aproveitem o que têm , não queiram sempre mais
Não caiam nessas lendas de que não sofrem os demais!

Agora que começam um novo ano, acordem!
Deixem de acordados dormir
Levantem-se, acudam
À ajuda de quem a pedir.
Sejam humanos, não sejam irracionais
Vivam em harmonia
Desfaçam-se dos instintos animais
Vivam, tenham alegria!
Amanhã pode não haver mais...

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