sábado, 21 de maio de 2011

Ah tivesse eu...

Tivesse eu palavras
Em forma de descrição profana
Num mundo de doidos varridos
Talhado, crepitado pela vida humana
Onde segue a marcha de sangue em tons garridos
Do Norte ao Sul da costa Africana

Tivesse eu poderes findáveis de guerra
Supremos e hábeis em mudança
Apagando a roxa lágrima do olho da criança
Cujos pais petrificados comem a terra
Num soluço negro de esperança

Tivesse eu o controlo dos destinos
Destes vultos que pela sombra se passeiam
Da embarcação submersa aos ensinos
Onde jovens pelo mar, de bruços, esperneiam

Tivesse eu voz
Para juntar às estrelas luzidias no firmamento
E aos cortantes e desnorteados ventos
Juntar-lhes o sopro do mísero armamento
Dum pedestal em declínio de fados azarentos

Tivesse eu alma
Pura, leve, sem cor de crude
Numa viagem longa entre batidas e discrepâncias
Tivesse eu o pulso rude
Deitando por terra estas nobres ganâncias

Tivesse eu um argumento
Uma frase feita em cada acção
Uma postura regrada naquele momento
Em que estraguei a nossa bela narração

Tivesse eu um coração
Com rodopiantes borboletas em redor
Num ritmo pautado de ovação
A esta melodia suave que é o amor

Os atritos faiscantes nascem, desordeiros
Perante cânticos de júbilo ao karma que nos esbofeteia
Segura-se a mão dos nossos companheiros
Enquanto a farsa solta os esfomeados da alcateia
E encolho-me tal presa numa emaranhada teia
Duma vida de realeza em que figuro como plebeia.

2 comentários:

  1. Tivesses tu...reformulo...Tens tu o dom da escrita...como sempre fico "preso" as palavras...perfeito :)

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