quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Pfnmoea

Não vergues o olhar sombrio sobre as coisas mortas
e a mitologia das horas perdidas em cronómetros invertebrados.
Não te desfaças nesse sonambulismo de patetas
Nem sejas um poeta cego carregado de utopias cintilantes.
Sente o frio. Sente a dilaceração. Ouve os tumultos.
A chuva derramada na tua existência trôpega
E um piano que te grita errâncias de (des)ilusão.
É tudo teu. É tudo nosso, Seres humanos em delírio.
Os versos por viver, o sorriso por florescer:
A sinestesia de palavras doces conjugadas por um só.
O comboio sem destino que partiu sem sequer chegar à estação.

O ponto de ebulição invisível estendeu-se como uma nuvem
Sobre a natureza que guardavas no coração.
Da água tépida, do verbo cálido, da poesia efervescente,
Do verão, do mel, das flores perfumadas e do sal:
de nada te ficou o gosto.

domingo, 19 de outubro de 2014

Sou-te

Sempre que o canto das andorinhas
E o tumulto das tempestades
Assombrarem o teu peito,
Lembra-te que é essa a essência da vida:
Dualidades,
Polaridade;
Defeito.

Sempre que o horizonte te cegar
E a minha voz se perder no tempo
Lembra-te que a chuva e o vento são irmãos,
O rio e as flores companheiros,
Os índios e os colonos rivais,
A floresta e a noite mistérios,
e eu sou tua.

Facto. Ponto. Simbiose.
E então:
Sou-te.
Na curva do peito, na aba do sorriso, nas ondas do cabelo.
Nos corpos que entoam a mesma melodia intemporal
De suspiros e extensões de amor.
Carnalmente doce.

Sou-te,
Nesta rua apressada,
Nesta brisa outonal,
Nas avenidas, nas pracetas, no metro,
Neste quotidiano informal vestido pelo Homem.

Sou sorrisos, dou ternuras,
Caminho contigo pelo abismo de violetas encardidas
Plantadas pelos destinos perdidos de outros amores
Com a certeza de que seremos diferentes,
  Leves, puros e belos como margaridas prontas a colher.

Sou-te,
em canónicos sentires de plenitude comungada:
e o teu sorriso enlaçou(-se) no meu.

Posso não ter uma fisionomia de gigante,
Não ter na palma das mãos a imensidão do universo
Ou a força arrebatadora das palavras,
mas,
Por ti,
   carrego estrelas, mil estrelas, no olhar.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A Dança dos Pássaros




És tu quem conhece as ditaduras de uma vida em queda anabática.
És tu quem espelha no céu os gestos dela e a vês em cada nuvem fugidia.
És tu quem vê os campos de flores e lembras o seu sorriso... E as violetas do vestido.
És tu quem vive de um despotismo absorto de sentires e se embebeda de existências.
És tu o mártir da tua própria cruzada e dos pesadelos desenhados pelos outros.
És tu quem grita pelo vento e vocifera o pôr-do-sol numa sinestesia intrincada.
És tu quem chora com os poemas de Drummond de Andrade na solidão da madrugada.
És tu quem tem inveja dos pássaros e do Peter Pan; porque o teu voo é feito de espirais formadas por asas cronológicas sem abraços nem braços, sem compassos nem passos, sem esferas nem esperas.
És tu quem vive de prisões, de risos estridentes, de ardentes quimeras; que gritas, voas, existes e desistes. E desesperas.
Voltem, voltem, voltem quimeras.

domingo, 27 de julho de 2014

ninguém se lembra mais de mim

Abre-se a lua em quartos de laranja abençoando o céu de cores citrinas.
Ergue-se viva a noite de Verão
Em explosões outrora harmoniosas.
Galanteios e promessas vazias: globalização.

Escrevo.
(com dor no coração, dor no coração...)

Aos pés, o diário sujo de lembranças
Serpenteando entre h2o em estado líquido.
No ventre, as teatralizações infiéis:
Os sorrisos manchados pelo decurso dos destinos, o vento norte, o caminhar de primata: tão trôpego, tão primário, tão primeiro. Tão sujo.

Desamor.
O prefixo junta-se a sufixos dilacerantes
E os punhais cravam-se na íris
Em efervescências sanguíneas em descontrolo.
A visão desvia-se,
A água passa.
névoa... névoa... neva.
Neva no meu coração.

Escrevo
E escrever é perder vida,
É criar vida da morte em vida.
É dar com uma mão e esganar-se com a outra.
É esbanjar sentimentos colhidos pelo vento e rodopiar sobre as águas paradas.
É seguir a corrente e emaranhar o futuro nas entranhas de um sopro de nuvem.
É negar o ser e assumir a derrota
Que envenena e rasga o peito em três mil pedaços irregulares e cortantes.

Escrever é espelhar sentimentos
E mascará-los de virtudes didáticas.(risos histéricos!)

Escrever dói.
Anula.
É um infinito de um infinito só.
Sombras de anseios ensaiados.
Fantasmas solitários.
Eu.

Escrever é amar.
É rir com as letras e dançar com as palavras.
Escrever é deixar-se.
É ser louco.
É ver o mundo a dar voltas
E vomitar de confusão.
É a queda e a exaustão:
Pelo mesmo de sempre,
Pelo mesmo de nunca.
Psicose, ardor, merda,
paixão!

(pum pum pum!)
A vida pernoita lá fora...
E ninguém se lembra mais de mim.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Efemer(idade)

Um sussurro de poesia numa pauta de latim
 No canto mais negro da sala.
A controvérsia dos gritos de revolta
E o amor no doce deslizar de carícias.
Negro. Branco.
Branco. Negro. tão negro,
que o branco asfixia e metamorfiza-se em violeta.

Vicissitudes do ser,
Esmagantes, sufocantes, vibrantes, com prazo de validade.
Eufemismos que escondem os pequenos rios que se formam no olhar,
Eufemismos que calam a voz de quem canta
um triste fado de abandono e desespero em surdina.
Eufemismos vestidos de seda e de prata,
Abraçados a egos vacilantes e a discursos trôpegos.
Eufemismos em desfile, absorvidos por máscaras:

Quebram-se os votos e as promessas
E a ditadura do coração impera numa inverossímil tempestade de libertação.

Quebram-se os dentes.
Rasgam-se os lábios.
Dilacera-se o amor e o coração que o sustenta.
E o fado permanece suspenso dos fios dos destinos das deusas do tempo.
D-d-d-d-d-desespero em ruge-ruge de borboleta.

A melodia morreu
Mas o violino abraça-se à doce envergadura da criança
 que ri e chora a emoção de cada nota libertina.
A sinfonia dança uma valsa com Cronos
E amam-se nos paradoxos das sonhadas utopias.
Efémero.
Tudo é.
 Tudo foi.
   Tudo será.



quarta-feira, 26 de março de 2014

Pinto o sorriso no céu e deixo que as gaivotas o abracem.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Des[abafo]

A 17-3-2014:

O Outono enchia-lhe o coração. As pessoas eram sombras e o mundo uma prisão. Dedos percorriam-lhe a garganta. Apertou. O nó ficou cego como o coração que se partiu. Pedaços espalharam-se na terra despida de sensatez da tua mente. Os dias enegreceram. O Inverno enganou a Primavera. Rasteirou-a. Matou-a. Excluiu-a. Roubou-lhe a existência. Esganou-a de abandono.
O chão abriu-se e engoliu a vida. As sombras das memórias dominaram o mundo. As forças queimaram-se no sol de que és feito. A vida foi contigo; a dor deu-me a sua pequena mão desajeitada e abraçou-me até dilacerar. A água dos meus olhos lançou-se em tumulto contra as barragens da inibição e afogou-me a face. O cérebro berrou ao coração numa língua de sofrimento estonteante. O trovão da fome batuqueou e a tempestade surgiu. Quem sou eu agora? Que fiz para encontrar-me a sós com o abandono? Quem sou eu agora? Quem sou eu agora? Quem sou? Sou? Eu?

Raios.

Dói tanto como uma facada presencial... O sangue escorre pelo corpo em desvario e delírio fervilhante sempre que a recordação te traz. As pernas fraquejam e o corpo pede absolvição. Corre tempo, corre mágoa, corre cura... Encontrem-me belos dias de sol e a leveza de um sorriso triste. Encontrem-me a paz da superação e a esperança de um trilho feliz... porque não é disto que sou feita... Não sou feita desta tristeza apavorante que me consome alma, músculos, ossos e ser como predestinada a excedente do mundo canalizado sobre mim.

Socorro.

O meu peito aperta-se como duas mãos numa despedida... Ainda sinto os teus lábios sobre os meus... Não, não, não! Lágrimas não... Sufoco não... Dor não... Não! Não mereço isto. Fiz tudo ao meu alcance e nada foi suficiente. É tão fácil abandonar-me. Tão simples. É o método mais eficaz para chamar a felicidade.Abandonar-me... Só isso: abandonar-me.

Sou sempre um sufoco. Sou uma rotina desprezível como acordar cedo à segunda feira. Sou sempre o erro e a resolução. O obstáculo. O peão que desiquilibra o jogo. Nunca sou sol nem lua nem estrelas. Só trevas mascaradas de insuficiência. Só conforto passageiro. Só distância suave. Merda para mim que não significo nunca nada! Merda para mim por ser facilmente abandonável! Merda para mim que pertenço à geração dos fracos e oprimidos que são sempre buracos negros ao bem estar! Merda para mim por escrever estas coisas mas preciso desta merda deste desabafo porque me abandonaste e te vês melhor sem mim. Merda para mim... porque amo e não obtenho reciprocidade ou equivalência... Ainda sou daquelas que dava a vida por quem ama e se sujeitava aos piores calvários para que o outro subsistisse... mas eu não passo de uma nuvem no dia feio dos outros... Um acaso do destino daqueles bem infelizes e que conduzem a redefinições de vida. É. É só para isto que sirvo: levar os outros a desejarem arduamente mudar as suas vidas porque a minha presença sabe a vinagre em horas de sede. Adriana.Eu. O tudo que passa a nada. O obstáculo à felicidade. A rampa de projeção para a mudança. Foda-se tudo isto, já era hora de me terem em melhor consideração!

Sejam bem-vindos de novo pesadelos reais e apertos no coração. Não senti a vossa falta e, como o karma não perdoa uma, cá está a vossa vingança de retornado. Chegaram todos muito rápido e riem-se dos meus teatros de bem-estar. Se eu jurar que vos ganho algum amor e respeito...deixam-me em paz?

sábado, 1 de fevereiro de 2014

orifício expiatório

A vida é tresloucada e viciada.
Os dias são miragens às manchas:
De dor em fundo de guerra,
De suor em fundo de sangue.
De gaviões em fundo de floresta.
Sobrevivência e ternura.
Ar, ar, ar...

A vida são corvos.
Tempo de santo sem santidade.
Brrr... Brrr... Brrrrrrrrr!
É o gelo no lugar da linfa
Que rasga as entranhas de um poeta.

A vida é a loucura.
A noite.
Os cisnes antes da transformação.
É o sabor a sangue.
As lágrimas de fel.
A guilhotina.
...
Crunch!
...
E os sorrisos mortos no chão.

A vida é o viajante cego de destino.
É o caminho de encruzilhada com leões.
É o peso dos trovões
E o riso dos demónios.

A vida é tresloucada e viciada.
eu.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Não sei

Em três minutos dou-te o mundo
Num mudo amor de três sentidos:
A estrada, o rio e a noite.

Somos dois em três.
Sós nas trevas.
Juntos no arco-íris.
Tão sós nas falhas do tempo.
Tão um nos dias de sol.

Abraça-te ao vento
Corre da onda gigante de ser que sou
Ou afoga-te nos meus braços quebradiços.
Tu comandas.

          os desejos são flores sem pétalas na tempestade,
Os beijos...
Oh os beijos!
São doces carícias do sol na barriga das nuvens.

Vem, segue a afluência.
Sê leão
Ou borboleta
Mas sê.

A torre é tua.
O caminho é nosso.
As palavras são de quem as quiser
E o sorriso é somente meu.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

afasta-te

Chora o vento.
Gritam os diabos.
Perpétua comunhão de sentires.
Árvores nuas como a vida que nasce.
Atos lógicos e fatos loucos.

O rei da tempestade.
O lacaio do mar.
O mordomo do vinho.
A humanidade desumana.
Os vultos sem sombra.
A alma consumida pelo cigarro.

O sonho desfeito em quatro mil pedaços.

Irregularidades.
Ângulos.
Dores no corpo.
Sorrisos nos doidos.

A chuva imensa.

É inverno.