sábado, 22 de fevereiro de 2014

Des[abafo]

A 17-3-2014:

O Outono enchia-lhe o coração. As pessoas eram sombras e o mundo uma prisão. Dedos percorriam-lhe a garganta. Apertou. O nó ficou cego como o coração que se partiu. Pedaços espalharam-se na terra despida de sensatez da tua mente. Os dias enegreceram. O Inverno enganou a Primavera. Rasteirou-a. Matou-a. Excluiu-a. Roubou-lhe a existência. Esganou-a de abandono.
O chão abriu-se e engoliu a vida. As sombras das memórias dominaram o mundo. As forças queimaram-se no sol de que és feito. A vida foi contigo; a dor deu-me a sua pequena mão desajeitada e abraçou-me até dilacerar. A água dos meus olhos lançou-se em tumulto contra as barragens da inibição e afogou-me a face. O cérebro berrou ao coração numa língua de sofrimento estonteante. O trovão da fome batuqueou e a tempestade surgiu. Quem sou eu agora? Que fiz para encontrar-me a sós com o abandono? Quem sou eu agora? Quem sou eu agora? Quem sou? Sou? Eu?

Raios.

Dói tanto como uma facada presencial... O sangue escorre pelo corpo em desvario e delírio fervilhante sempre que a recordação te traz. As pernas fraquejam e o corpo pede absolvição. Corre tempo, corre mágoa, corre cura... Encontrem-me belos dias de sol e a leveza de um sorriso triste. Encontrem-me a paz da superação e a esperança de um trilho feliz... porque não é disto que sou feita... Não sou feita desta tristeza apavorante que me consome alma, músculos, ossos e ser como predestinada a excedente do mundo canalizado sobre mim.

Socorro.

O meu peito aperta-se como duas mãos numa despedida... Ainda sinto os teus lábios sobre os meus... Não, não, não! Lágrimas não... Sufoco não... Dor não... Não! Não mereço isto. Fiz tudo ao meu alcance e nada foi suficiente. É tão fácil abandonar-me. Tão simples. É o método mais eficaz para chamar a felicidade.Abandonar-me... Só isso: abandonar-me.

Sou sempre um sufoco. Sou uma rotina desprezível como acordar cedo à segunda feira. Sou sempre o erro e a resolução. O obstáculo. O peão que desiquilibra o jogo. Nunca sou sol nem lua nem estrelas. Só trevas mascaradas de insuficiência. Só conforto passageiro. Só distância suave. Merda para mim que não significo nunca nada! Merda para mim por ser facilmente abandonável! Merda para mim que pertenço à geração dos fracos e oprimidos que são sempre buracos negros ao bem estar! Merda para mim por escrever estas coisas mas preciso desta merda deste desabafo porque me abandonaste e te vês melhor sem mim. Merda para mim... porque amo e não obtenho reciprocidade ou equivalência... Ainda sou daquelas que dava a vida por quem ama e se sujeitava aos piores calvários para que o outro subsistisse... mas eu não passo de uma nuvem no dia feio dos outros... Um acaso do destino daqueles bem infelizes e que conduzem a redefinições de vida. É. É só para isto que sirvo: levar os outros a desejarem arduamente mudar as suas vidas porque a minha presença sabe a vinagre em horas de sede. Adriana.Eu. O tudo que passa a nada. O obstáculo à felicidade. A rampa de projeção para a mudança. Foda-se tudo isto, já era hora de me terem em melhor consideração!

Sejam bem-vindos de novo pesadelos reais e apertos no coração. Não senti a vossa falta e, como o karma não perdoa uma, cá está a vossa vingança de retornado. Chegaram todos muito rápido e riem-se dos meus teatros de bem-estar. Se eu jurar que vos ganho algum amor e respeito...deixam-me em paz?

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