Eis a época mais bela do ano. Cores de vitamina no céu e calor humano no acolher de uma casa repleta de familaridades. As nuvens fagucitando a humidade e explodindo em trovões, numa ebulição tão outonal como as folhas douradas pelo chão. As árvores desfizeram-se delas, largando-as numa dieta natural. As crianças correm a apanhar as vestimentas despidas para posteriormente, as secarem e, as colocarem em portfólios que a professora rechonchuda lhes pedira. Era uma professora de jeitos suaves com grandes olhos de cor de Outono e mel. Tinha quase 50 anos e toda a sua vida fora dedicada ao ensino da
pequenada. Agradar àquela professora era aliciante.Vê-la a sorrir de aprovação e
contentamento era a meta que todos queriam alcançar. Como caía bem
aquele sorriso! Era como se a neve lá fora caisse e o conforto morasse
no nosso lar, apetrechado de lareira e muitas bebidas doces e
quentinhas. Era o sorriso mais reconfortante da vida, ainda curta,
daqueles meninos. A professora sabia-o bem e então sorria, sorria muito para alegrar o coração dos seus filhotes tão dedicados. Para ela, todos os seus alunos são andorinhas frágeis que ela educa com primordiais doçuras conjugadas com regra e disciplina. Quando estes crescem, ela os liberta
com o carinho mais belo do seu coração e os olhos aguados. Era uma escola simplória e os seus alunos de uma classe baixa e esforçada. Eram abençoados pelos olhos de mel e o ensino de uma mãe emprestada que, ensina a vida e os principais modos de estar e de ser, durante quatro curtos mas acertados anos.
Lá fora, os ramos dançam com o vento e vão ficando à mercê , tão desamparados, tão nus e tão frágeis. Preparam-se para longos abalos e tempestades imprevisíveis. Eis uma bela representação do ser humano, que sempre me ocorre nesta época. Dançamos com as preocupações, num esforço contínuo de suor até à última pirueta. Os fortes aguentam a dança, dão saltos mortais e arriscam. Os frágeis sentam-se no canto a ver os outros dançar. Os bailarinos sorriem triunfantes na fase final do seu rodopio. O compasso dita os movimentos, os pés ditam o caminho. Dancemos.
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