Entre jangadas de balanços uníssonos tapo a voz
Aos olhos da vida, das passagens, do rio
E a jangada corre, num ritmo em brio
Desce a nascente até à foz
Como a desnutrição do que era meu.
Para trás os abandonos
As palavras piegas e adorações...
Que se fodam os subornos
Enjoei de comparações!
Se lhe partisse os sonhos a meio
Caminhava-o ao desalento
Ao cenário louco que saboreio
No peito do colosso que dele fomento.
Se lhe partisse o corpo em três
Atirava-o à epifania da tormenta
Cada capítulo em deslize, à vez
Rumo de digestão mecânica violenta!
Se lhe partisse a voz e o ser
Ria-me pelos prefácios ignorados
Ria gargalhando as lágrimas que ao verter
Jorravam sangue nos olhos mortificados.
Os meus, os meus!
Perdi-me.
E...
Entre marés de folhas de papel imaginárias
Em leve toque de metáfora poética
Fogem mergulhadas letras nuas e precárias
Gritando, desesperando em mera ordem alfabética.
Calmaria...
O vento melancólico atravessa as frechas das janelas
Das portas, dos sonhos e dos tempos
Calmaria...
As criaturas saltitam entre os paralelos e solstícios de primavera
No seio de rotinas e paisagens verdemente belas
Semi-calma...
Canta-nos a harpa dramática de fundo
Entre timbres de tropeçar e raiva expressos
Escuta-se o trovejar espalhado pelo mundo
Onde vidas-violeta se cruzam e encruzilham em avesso
Meia-calma...
E ergue-se a lua cheia e esbranquiçada
Entre metáforas brilhantes na água do lago
Surge-nos o amor, essa palavra espelhada
Entre um beijo ao de leve, tão estupidamente vago!
Quase-calma...
Nós
E a fluência do sujo riacho
Que nos brinda com a sua pestilenta presença.
Nula-calma...
E voa até mim como as aves migratórias
Sobre os céus de Florença
Voa, voa, esquece as horas
Condicionamentos, paragens e doença!
Voa voa voa entre o algodão das nuvens,
Entre a destreza dos prédios que, ao longe, se adivinha
Voa voa voa, vem até mim e mostra-me
Porque gostava eu da premissa "és minha"!