segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Carmim

Escapou-se o controlo na viagem da nossa amizade
Duma união quebradiça e inconstante
Extinguiram-se poderes, confiança e vontade
Guiamos este capítulo a um destino terminante

A vida continuou...
Novas pessoas, velha rotina
A nossa conjugação cessou
Fechou-se em copas entre a vida citadina
E nós...
Nós éramos raios de sol sorridentes
Objectivos e batalhas em união
Éramos colossais, fortes, surpreendentes!
Nosso brilho era inveja de uma complexa constelação!

O tempo adiantou-se a nós...
Caminhada cônjuge por meia dúzia de anos
Crescendo, aprendemos a ficar sós
Tropeçamos inúmeras vezes nos mesmos enganos
Oh estúpida mente humana!
Decapitante inconsciente de relações
Geradora de cortes e mágoas que imana
Causando múltiplas e excessivas fracções...
Deixamos tudo pelo caminho, até o alento...
Que se recusou a aguardar pelas nossas companhias
As minhas entranhas friccionam-se em fragmento
Circulando nelas o vazio que me trazem estes dias...

Não eras perfeita, bem o sei
Remávamos no mesmo conflito
Imperava o antónimo como rei
A fraude de lidar com espaço restrito
Aaaaaaaaaaaah!
Os erros também foram meus
Confissões cortantes e frustradas eclodiram
Cada um toma conta dos seus
E eu sinto que todos me fugiram!
Para quê me usar?
Enganar?
Ignorar?
Vacilar?
Falar?
Gritar?
Chutar?
Chutei-te eu a ti!
Cresci, porém sozinha, aprendi...
Vivi!
Sofri!
Morri!
E tu nem te dignaste a estar aqui!

E agora...
Já banalizados se deturpam os conceitos
E não acredito na significação de sinceridade
Fico imobilizada e suja neste rol de defeitos
Que és tu!
Que sou eu...
Que somos nós!
Que resultam de força atroz
Do querer da enfermidade imunda de um ser...
Procura por mim
Nas doces trevas coloridas de carmim
E lá encontrarás o esperado fim...

De grisalhos cabelos de idade
Cerro os olhos mortos pelo mundo
Acaricio vagamente meus dedos enrugados de vaidade
Encerro o sonho por um segundo...
Fundo, carrego comigo o sentimento de culpa imundo...
Morta pela saudade...
Saudade, saudosa, sadia
Tenho de partir, até um belo dia...
E chovem oceanos em mim...
Procura, procura por mim
Nas doces trevas cor de carmim
E lá encontrarás o soberbo, o esperado fim!

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